Defesa do meio ambiente

Rio Ciência 92

Em 1992, de 25 de maio a 14 de junho, o Fórum de Ciência e Cultura se tornou um pólo mundial de debates sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Durante esses 20 dias, o Rio Ciência 92 reuniu pesquisadores do Brasil e do mundo, numa programação paralela à Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. Promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a UFRJ e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), os debates tiveram Pinguelli Rosa, na época coordenador do Fórum de Ciência e Cultura, como anfitrião.

O evento foi um meio para que a comunidade científica brasileira pudesse se posicionar sobre os temas debatidos na Conferência pelas delegações governamentais. “As universidades querem participar e opinar. Até agora, a realização da Rio-92 não mobilizou o país”, disse Pinguelli Rosa ao Globo, em junho de 1991. Às vésperas do início da Rio Ciência 92, o presidente da SBPC, Emilio Candotti, deu entrevista em que apresentava a programação como um espaço de defesa dos interesses nacionais. “Não creio que teremos força para influenciar as decisões ou alterar as negociações. Mas certamente poderemos evitar que sejam aceitas determinadas propostas que possam prejudicar o Brasil. Estaremos vigilantes”.

Além da Rio Ciência 92, o Fórum de Ciência e Cultura também abrigou o Programa Científico do Grupo de Trabalho Nacional e da Unesco, uma série de debates que reuniu 500 cientistas de 180 países, de 1 a 5 de junho, e que fazia parte da programação oficial da Conferência da ONU. Nos salões do palácio, circulavam pessoas do Executivo, como o ministro da Educação, e parlamentares como Ulysses Guimarães, Ibsen Pinheiro, Nelson Carneiro e Lula.

Os debates da Rio Ciência 92 foram acalorados e cobertos pela imprensa. Já no evento de abertura, o ministro de Ciência e Tecnologia, José Goldemberg, lamentou que temas fundamentais para a preservação ambiental, como a Energia Nuclear e o crescimento populacional nos centros urbanos não tivessem sido incluídos na pauta da conferência mundial. Goldemberg também reconheceu que o Brasil não teria influência decisiva no documento a ser elaborado após a Rio-92, o que foi noticiado na imprensa.

Na mesma mesa, o ministro falou sobre as dificuldades impostas por países desenvolvidos para a criação de um fundo para o meio ambiente. Segundo ele, o Banco Mundial havia proposto que o Brasil renunciasse à construção de hidrelétricas e ao uso de álcool como combustível. Pinguelli reagiu com nacionalismo característico:

– Alegam que as hidrelétricas causam inundação de várias áreas e o álcool é mais caro. Hipocrisia de quem não quer que os países em desenvolvimento progridam.

A discussão sobre uma política conservacionista que considerasse o bem-estar de grupos vulneráveis deu a tônica de muitos debates durante a Rio Ciência 92. Também na mesa de abertura, Pinguelli afirmou:

– Não acredito em uma ecologia que dá mais valor ao mico leão dourado do que a uma criança.

Não faltou polêmica durante o encontro. Em um dos debates, posições diferentes sobre as causas do efeito estufa provocaram uma discussão acalorada. O mexicano Mario Molina, do Massachussets Institute of Technology (MIT), primeiro a prever o buraco na camada de ozônio sobre a Antártida, que depois seria agraciado com o Nobel de Química, reagiu com incredulidade quando o meteorologista brasileiro Luiz Molion, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) disse que não existia evidência científica de que o buraco seria causado por atividades humanas.

Com a memória do acidente nuclear de Chernobyl, de 1986, ainda recente, o uso da energia nuclear também provocou embates. Em um dos debates, Pinguelli anunciou que, “depois da ex-URSS, somos os primeiros candidatos a um acidente nuclear”. Ele reagiu ao representante da Nuclen, que afirmava que o uso de energia nuclear é seguro.
– O rejeito radioativo é altamente cancerígeno e precisa ser muito bem guardado por 200 anos – disse.

Em um artigo no jornal, Nelson Maculan, reitor da UFRJ na época, fez uma avaliação positiva dos encontros. “A agenda variada e dinâmica, a efervescência das exposições e controvérsias, sem dúvida, reafirma a importância da universidade pública brasileira, no exercício de sua função utópica, pela permanente busca de ultrapassagem dos impasses sociais inerentes ao contexto em que se inscreve”.

Mas a leitura dos títulos das reportagens sobre os debates da Rio Ciência 92 mostra que continuamos a discutir temas que já eram assunto na época: “Amazônia pode sumir em 44 anos”; “Queimadas aquecem efeito estufa”; “Deve faltar água no ano 2000”. Apesar do trabalho de tantos intelectuais e pesquisadores, o Brasil ainda está muito longe da utopia de conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.

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As universidades querem participar e opinar. Até agora, a realização da Rio-92 não mobilizou o país “

Pinguelli

Rio Ciência 92

Em 1992, de 25 de maio a 14 de junho, o Fórum de Ciência e Cultura se tornou um pólo mundial de debates sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Durante esses 20 dias, o Rio Ciência 92 reuniu pesquisadores do Brasil e do mundo, numa programação paralela à Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92. Promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a UFRJ e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), os debates tiveram Pinguelli Rosa, na época coordenador do Fórum de Ciência e Cultura, como anfitrião.

O evento foi um meio para que a comunidade científica brasileira pudesse se posicionar sobre os temas debatidos na Conferência pelas delegações governamentais. “As universidades querem participar e opinar. Até agora, a realização da Rio-92 não mobilizou o país”, disse Pinguelli Rosa ao Globo, em junho de 1991. Às vésperas do início da Rio Ciência 92, o presidente da SBPC, Emilio Candotti, deu entrevista em que apresentava a programação como um espaço de defesa dos interesses nacionais. “Não creio que teremos força para influenciar as decisões ou alterar as negociações. Mas certamente poderemos evitar que sejam aceitas determinadas propostas que possam prejudicar o Brasil. Estaremos vigilantes”.

Além da Rio Ciência 92, o Fórum de Ciência e Cultura também abrigou o Programa Científico do Grupo de Trabalho Nacional e da Unesco, uma série de debates que reuniu 500 cientistas de 180 países, de 1 a 5 de junho, e que fazia parte da programação oficial da Conferência da ONU. Nos salões do palácio, circulavam pessoas do Executivo, como o ministro da Educação, e parlamentares como Ulysses Guimarães, Ibsen Pinheiro, Nelson Carneiro e Lula.

Os debates da Rio Ciência 92 foram acalorados e cobertos pela imprensa. Já no evento de abertura, o ministro de Ciência e Tecnologia, José Goldemberg, lamentou que temas fundamentais para a preservação ambiental, como a Energia Nuclear e o crescimento populacional nos centros urbanos não tivessem sido incluídos na pauta da conferência mundial. Goldemberg também reconheceu que o Brasil não teria influência decisiva no documento a ser elaborado após a Rio-92, o que foi noticiado na imprensa.

Na mesma mesa, o ministro falou sobre as dificuldades impostas por países desenvolvidos para a criação de um fundo para o meio ambiente. Segundo ele, o Banco Mundial havia proposto que o Brasil renunciasse à construção de hidrelétricas e ao uso de álcool como combustível. Pinguelli reagiu com nacionalismo característico:

– Alegam que as hidrelétricas causam inundação de várias áreas e o álcool é mais caro. Hipocrisia de quem não quer que os países em desenvolvimento progridam.

A discussão sobre uma política conservacionista que considerasse o bem-estar de grupos vulneráveis deu a tônica de muitos debates durante a Rio Ciência 92. Também na mesa de abertura, Pinguelli afirmou:

– Não acredito em uma ecologia que dá mais valor ao mico leão dourado do que a uma criança.

Não faltou polêmica durante o encontro. Em um dos debates, posições diferentes sobre as causas do efeito estufa provocaram uma discussão acalorada. O mexicano Mario Molina, do Massachussets Institute of Technology (MIT), primeiro a prever o buraco na camada de ozônio sobre a Antártida, que depois seria agraciado com o Nobel de Química, reagiu com incredulidade quando o meteorologista brasileiro Luiz Molion, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) disse que não existia evidência científica de que o buraco seria causado por atividades humanas.

Com a memória do acidente nuclear de Chernobyl, de 1986, ainda recente, o uso da energia nuclear também provocou embates. Em um dos debates, Pinguelli anunciou que, “depois da ex-URSS, somos os primeiros candidatos a um acidente nuclear”. Ele reagiu ao representante da Nuclen, que afirmava que o uso de energia nuclear é seguro.
– O rejeito radioativo é altamente cancerígeno e precisa ser muito bem guardado por 200 anos – disse.

Em um artigo no jornal, Nelson Maculan, reitor da UFRJ na época, fez uma avaliação positiva dos encontros. “A agenda variada e dinâmica, a efervescência das exposições e controvérsias, sem dúvida, reafirma a importância da universidade pública brasileira, no exercício de sua função utópica, pela permanente busca de ultrapassagem dos impasses sociais inerentes ao contexto em que se inscreve”.

Mas a leitura dos títulos das reportagens sobre os debates da Rio Ciência 92 mostra que continuamos a discutir temas que já eram assunto na época: “Amazônia pode sumir em 44 anos”; “Queimadas aquecem efeito estufa”; “Deve faltar água no ano 2000”. Apesar do trabalho de tantos intelectuais e pesquisadores, o Brasil ainda está muito longe da utopia de conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental.

As universidades querem participar e opinar. Até agora, a realização da Rio-92 não mobilizou o país “

Pinguelli

Cartaz da Rio Ciência 92, com escultura e foto do artista Frans Krajcberg

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Cartaz da Rio Ciência 92, com escultura e foto do artista Frans Krajcberg

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