Luiz Pinguelli Rosa em verso e prosa
por Carlos Henrique Duarte, pesquisador de pós-doutorado em planejamento energético
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Um jovem aluno da graduação, residente e coordenador no Alojamento estudantil, que tinha uma visão bem diferente, quando este professor foi candidato a Reitor.
Anos depois em 2006 no doutorado, sem que me conhecesse, fosse meu professor ou orientador ou ainda fosse um dos “seus” no IVIG, estimulado pelas palavras de meu pai, ajudante de pedreiro que o conheceu no IEN, o procurei para me apoiar no projeto de tese, ignorado e até rechaçado por especialistas, como comprovado pelo meu amigoProfessor Richard Magdalena Stephan.
O que o professor Pinguelli tinha a ver com “Impactos Econômicos dos Harmônicos de Corrente das Cargas Não Lineares em Redes Elétricas de Distribuição Residenciais”? Vi o brilho nos olhos dele e a atenção se redobrar pelas palavras mágicas “é um risco para as pessoas e o sistema elétrico, que eu cheguei a tempo para evitar um incêndio numa instalação militar, pela poluição produzida nas redes elétricas, do uso de uma tecnologia estrangeira que não dominamos a fabricação, oriunda de países europeus que trataram estes óbices desde a década de 90”
“Risco às pessoas desta Nação”, “deterioração do nosso sistema elétrico” e “dependência da nossa segurança energética a tecnologia estrangeira” foram as palavras mágicas para ele pedir uma apresentação detalhada no IVIG, que depois se foi o motor para ele se tornar um imprescindível apoiador do projeto, me colocando em contato direto com Diretorias ou Superintendências na Eletrobrás e em Concessionárias.
Me impressionava ele resolver de imediato, ligando, ou pouco depois, assinando por escrito, o que me permitiu acessar dados e informações das redes das concessionárias, além de ter um engenheiro dedicado para me explicar os detalhes e sanar as dúvidas acerca da operação. Isso propiciou uma estimativa bem aproximada da deterioração do sistema elétrico em bilhões, do que poderia ser evitado de modo muito simples pela regulação.
Sem ter algo a ganhar, sequer uma participação na publicação “Economic impacts of power electronics on electricity distribution systems”, sempre me recebeu e atendeu de forma especial, digo que até por vezes cuidou do que ele alcunhou “aquele aluno abandonado”, por remar contra as forças de mercado, que o citou na tese de doutorado “…ao professor Luiz Pinguelli Rosa, que mesmo diante de tantas demandas sempre se prestou solícito”.
Ele me recebeu até em dia de visita de Ministro de Estado, sem ter espaço na sua agenda, que a Fátima já sabia do seu apreço por cuidar de gente carente, que ele sabia estar diante de um esgotamento financeiro, de recursos e até pessoal, com falta de apoio lutando contra a maré.
Em 2012 quando estreitamos uma relação de trabalho, ainda que sem condições por eu já estar num MBA no COPPEAD, aceitei o desafio de prosseguir um projeto de posdoc sob sua supervisão, diante da saída da pesquisadora. Mais uma vez vivenciamos a sinceridade da verdade, em que eu expressei “professor embarco nessa missão, para tratar do que é mais relevante para nossa população, ao invés de para receber uma bolsa e publicar um paper”.
Ele aceitou o desafio de “Estimar os Efeitos da Transferência de Cargas do Modo Rodoviário para o Ferroviário”, assunto com poucas publicações em relação ao foco da pesquisa antes conduzida, de soluções para mitigação das emissões e do consumo de energia no modo rodoviário, além de sem recursos adicionais para viagens, como ir ao Ministério dos Transportes ou ANTT em Brasília, até obter com muita dificuldade os dados e informações necessárias.
A partir desta pesquisa, pode-se estimar que a nossa estrutura de transportes, principalmente fomentada entre 1960 e 1980, tornou o Brasil o único país continental do mundo com 93% dos passageiros e cerca de 60% das cargas concentradas no modo rodoviário, resultando numa perda de R$ 260 bilhões/ano, quase todo o valor de mercado da Petrobrás em 2015.
Esta pesquisa permitiu um estreitamento ainda maior entre os filhos de um alfaiate e de um ajudante de pedreiro, Oficiais das Forças das Armadas em início de carreira, que se encontraram no Planejamento Energético. Eu admirava o Professor, Presidente de empresa, Diretor da COPPE, Coordenador de Programa, que apreciava conversar e até aprender da operação elétrica e energética, com um engenheiro que começou como estagiário no IEN, foi técnico eletrotécnico da UFRJ, Oficial Engenheiro Eletricista da FAB, engenheiro eletricista de multinacional de telecomunicações, consultor nos sistemas Eletrobrás e Petrobrás, além de professor de instituições técnicas e universitárias estadual e federal, lidando com alunos carentes.
Mesmo após o término do posdoc, vivenciamos discussões entre o seu posicionamento acerca dos desafios políticos, que o fizeram deixar a Eletrobrás, em que ele ouvia com atenção minha exposição sobre o panorama institucional da nossa infraestrutura de energia, transportes, telecomunicações, águas e saneamento, que poderiam se favorecer de grandes sinergias, vivenciada pela minha ótica técnica na pele da operação, mas com desperdício de bilhões que o país joga no lixo, em termos de energia e do aproveitamento do próprio lixo.
Eu cheguei a relatar como usei os recursos financeiros do lixo, que era jogado fora, inclusive ter um outro olhar para a Lei de Licitações, passando ileso por uma fiscalização vinda de Brasília,
para manter a infraestrutura de uma unidade militar industrial, com cerca de 1.300 pessoas, em que antes a minha própria seção sequer tinha um bebedouro para os 144 membros da Seção da Infraestrutura. Imagine o que as organizações e o país poderiam obter ($$$)?
Mantivemos essa estreita relação até sermos afetados por questões de saúde bastante sensíveis. Lutamos, mesmo sabendo ser contra um sistema muito mais poderoso, que continua tanto a poluir nosso solo e os cursos d’água com resíduos, que poderiam ser reaproveitados ou usados para gerar energia, quanto poluir e deteriorar as redes elétricas e seus equipamentos, conforme medições que eu mesmo conduzi até 2019, numa unidade de segurança das mais imprescindíveis para o país, que conta com recursos e pessoal qualificado, mas sem conhecimento do que são estas distorções harmônicas e seus impactos nas instalações elétricas.
Professor Luiz Pinguelli Rosa em Verso e Prosa, uma Energia que brilhava por essa brava gente mais carente, pela defesa da Ciência e Tecnologia Para a Soberania da Nossa Democracia.
O meu Agradecimento por ter sido imprescindível sua colaboração nesta viagem, de um filho de uma faxineira e de um ajudante de pedreiro, com 4 anos e 7 anos de instrução, respectivamente, sair literalmente do barro, do chão, decolar num avião, inclusive voar na cabine a jato, viver no exterior e se tonar um Professor Doutor com 30 anos de formação acadêmica e de experiência profissional em áreas transdisciplinares.
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