Ele aparecia e os problemas se resolviam

por Ricardo Kubrusly, professor do HCTE (Programa de História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia) da UFRJ

Depoimento dado durante a série de palestras Uma Rosa para Pinguelli, uma homenagem do HCTE ao professor Pinguelli

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Não chegamos a ser amigos. Nunca fui à sua casa, não tomamos chope e nem conversamos sobre amores perdidos. Éramos colegas e nossos assuntos eram acadêmicos. Eu o admirava. A imagem que tenho dele é de um gigante. A admiração que se tem por um amigo é bacana, mas a que se tem por alguém que não é seu amigo, ela tem um valor incrível porque é construída pelos ensinamentos da vida.

Quando vim para a UFRJ, em 1992, Pinguelli já era um líder importante, daqueles que ao entrar em um auditório o público se calava. Eu trabalhava no Instituto de Matemática, mas antes de ser matemático ou engenheiro, eu era poeta e queria iniciar um curso sobre a história cultural do infinito, uma possibilidade que me fora negada. Não queriam que eu desse uma disciplina sobre cultura.

Anos depois, eu já tinha me candidatado a um concurso na Uerj, quando Luiz Alfredo Vidal disse que ele, Pinguelli e Saul Fucs precisavam de um matemático que “transitasse por diferentes mundos” e me convidaram a fazer parte do HCTE. Aí eu conheci a Coppe e conheci pessoas que me encantaram completamente. Eu e Pinguelli conversávamos sobre Inteligência Artificial, ele era apaixonado pela discussão sobre se a máquina seria capaz de pensar à maneira humana.

No HCTE, toda vez que havia uma questão complicada de resolver ele aparecia. Silencioso, sempre me impressionava nele uma autoridade da presença, uma autoridade da existência. Ele aparecia e os problemas se resolviam.