Ciência, tecnologia e sociedade

Museu Nacional

Como diretor do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, Pinguelli tinha sob sua responsabilidade o Museu Nacional. Primeira instituição museológica e de pesquisa do país, o Museu funciona no prédio do Paço de S. Cristóvão, no belo parque Quinta da Boa Vista. Construído no local de uma antiga fazenda jesuíta, o casarão foi residência da família real portuguesa desde a chegada de D. João VI, em 1808. Após a proclamação da República e o banimento da família real, o prédio passou a abrigar o Museu Nacional em 1892.

Pinguelli visitou o museu na companhia do diretor, Arnaldo Campos dos Santos Coelho. “Assustei-me com o estado precário das instalações (…) O prédio tinha muita madeira e estava superlotado com o acervo do museu, com coleções de botânica, zoologia e antropologia de valor inestimável, únicas no mundo. O problema é que eram inflamáveis. Havia uma mistura explosiva ali”, escreveu Pinguelli, no seu livro Memórias.

“Cupins estão destruindo o Museu Nacional”, denunciava matéria de O Globo de 8 de setembro de 1991. A reportagem relata o estado lastimável da unidade, afirmando: “O Museu Nacional está sendo atingido por duas pragas devastadoras: insetos e a crônica falta de verbas”. Entre os problemas, o texto cita buracos de cupins no assoalho, manchas causadas por vazamentos e salas interditadas. Além disso, a falta de espaço prejudicava a organização do acervo: salas destinadas ao Brasil, por exemplo, abrigavam vitrines de países asiáticos.

Entre todas as questões, a mais inusitada que Pinguelli encontrou foi a conservação inadequada de uma múmia egípcia, itens trazidos pelo Imperador D. Pedro II. A múmia havia sido atingida por vazamentos de água que ameaçavam a sua conservação.

Pinguelli saiu em busca de recursos para um plano de recuperação, orçado em 3 milhões de dólares. Foi criada uma Sociedade de Amigos do Museu para reunir doações. Uma egiptóloga, trazida especialmente pela Sociedade, visitou o Museu para avaliar o estado das múmias e participou de um debate no Fórum de Ciência e Tecnologia.

O plano de recuperação incluia construir um prédio anexo para abrigar parte das coleções. O secretário de Ciência e Tecnologia, José Goldemberg, liberou 1 milhão de dólares para as obras. Foi escolhido um local vizinho ao museu, onde já havia outros anexos, como a biblioteca. Mas logo surgiram dificuldades. “O pessoal do meio ambiente, corretamente, se preocupou com a integridade da Quinta, com suas árvores centenárias imensas. Dei toda razão a eles, mas o pessoal do museu mostrou que a área do anexo não pertencia à Quinta, era apenas vizinha. Não tinha árvores grandes, mas apenas árvores pequenas ou médias. Podiam ser transplantadas para um lugar pouco adiante”, escreveu Pinguelli na sua autobiografia.

O impasse rendeu várias matérias em jornais. Numa reportagem, Pinguelli classificou de “burrice” a decisão da Prefeitura do Rio de embargar a obra. “Trata-se de um equívoco, porque o assunto já foi resolvido pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural”.

Enquanto isso, a campanha de arrecadação de recursos continuava. Já no governo Itamar, o Ministro da Educação, Murilo Hingel, ampliou a verba para os 3 milhões de dólares necessários. No entanto, na própria solenidade de assinatura do protocolo entre as instituições, o ministro da Cultura, Antonio Houaiss, pediu que a construção fosse suspensa e buscada uma alternativa. “A cena que vi é de hospício. Em janeiro, o ministro Antonio Houaiss autorizou a obra. Agora ele quer proibi-la”, declarou Pinguelli ao jornal O Globo.

Pinguelli tomou uma decisão drástica e ordenou o transplante das árvores. A notícia levou um procurador a ir ao local, com intuito de mandar o rebelde para a prisão. “Deram-me razão. Não fui preso”, resumiu.

Infelizmente, o esforço de recuperação não bastou para evitar que em 2018 o fogo consumisse grande parte do prédio e do acervo de 20 milhões de itens.

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Assustei-me com o estado precário das suas instalações, antigo Paço Imperial, onde moraram D. João VI, Pedro I e Pedro II (…) Para angariar apoio criamos uma Sociedade de Amigos do Museu “

Pinguelli , extraído do livro Memórias – De Vargas a Lula

Museu Nacional

Como diretor do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, Pinguelli tinha sob sua responsabilidade o Museu Nacional. Primeira instituição museológica e de pesquisa do país, o Museu funciona no prédio do Paço de S. Cristóvão, no belo parque Quinta da Boa Vista. Construído no local de uma antiga fazenda jesuíta, o casarão foi residência da família real portuguesa desde a chegada de D. João VI, em 1808. Após a proclamação da República e o banimento da família real, o prédio passou a abrigar o Museu Nacional em 1892.

Pinguelli visitou o museu na companhia do diretor, Arnaldo Campos dos Santos Coelho. “Assustei-me com o estado precário das instalações (…) O prédio tinha muita madeira e estava superlotado com o acervo do museu, com coleções de botânica, zoologia e antropologia de valor inestimável, únicas no mundo. O problema é que eram inflamáveis. Havia uma mistura explosiva ali”, escreveu Pinguelli, no seu livro Memórias.

“Cupins estão destruindo o Museu Nacional”, denunciava matéria de O Globo de 8 de setembro de 1991. A reportagem relata o estado lastimável da unidade, afirmando: “O Museu Nacional está sendo atingido por duas pragas devastadoras: insetos e a crônica falta de verbas”. Entre os problemas, o texto cita buracos de cupins no assoalho, manchas causadas por vazamentos e salas interditadas. Além disso, a falta de espaço prejudicava a organização do acervo: salas destinadas ao Brasil, por exemplo, abrigavam vitrines de países asiáticos.

Entre todas as questões, a mais inusitada que Pinguelli encontrou foi a conservação inadequada de uma múmia egípcia, itens trazidos pelo Imperador D. Pedro II. A múmia havia sido atingida por vazamentos de água que ameaçavam a sua conservação.

Pinguelli saiu em busca de recursos para um plano de recuperação, orçado em 3 milhões de dólares. Foi criada uma Sociedade de Amigos do Museu para reunir doações. Uma egiptóloga, trazida especialmente pela Sociedade, visitou o Museu para avaliar o estado das múmias e participou de um debate no Fórum de Ciência e Tecnologia.

O plano de recuperação incluia construir um prédio anexo para abrigar parte das coleções. O secretário de Ciência e Tecnologia, José Goldemberg, liberou 1 milhão de dólares para as obras. Foi escolhido um local vizinho ao museu, onde já havia outros anexos, como a biblioteca. Mas logo surgiram dificuldades. “O pessoal do meio ambiente, corretamente, se preocupou com a integridade da Quinta, com suas árvores centenárias imensas. Dei toda razão a eles, mas o pessoal do museu mostrou que a área do anexo não pertencia à Quinta, era apenas vizinha. Não tinha árvores grandes, mas apenas árvores pequenas ou médias. Podiam ser transplantadas para um lugar pouco adiante”, escreveu Pinguelli na sua autobiografia.

O impasse rendeu várias matérias em jornais. Numa reportagem, Pinguelli classificou de “burrice” a decisão da Prefeitura do Rio de embargar a obra. “Trata-se de um equívoco, porque o assunto já foi resolvido pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural”.

Enquanto isso, a campanha de arrecadação de recursos continuava. Já no governo Itamar, o Ministro da Educação, Murilo Hingel, ampliou a verba para os 3 milhões de dólares necessários. No entanto, na própria solenidade de assinatura do protocolo entre as instituições, o ministro da Cultura, Antonio Houaiss, pediu que a construção fosse suspensa e buscada uma alternativa. “A cena que vi é de hospício. Em janeiro, o ministro Antonio Houaiss autorizou a obra. Agora ele quer proibi-la”, declarou Pinguelli ao jornal O Globo.

Pinguelli tomou uma decisão drástica e ordenou o transplante das árvores. A notícia levou um procurador a ir ao local, com intuito de mandar o rebelde para a prisão. “Deram-me razão. Não fui preso”, resumiu.

Infelizmente, o esforço de recuperação não bastou para evitar que em 2018 o fogo consumisse grande parte do prédio e do acervo de 20 milhões de itens.

Assustei-me com o estado precário das suas instalações, antigo Paço Imperial, onde moraram D. João VI, Pedro I e Pedro II (…) Para angariar apoio criamos uma Sociedade de Amigos do Museu “

Pinguelli , extraído do livro Memórias – De Vargas a Lula

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