Instituto Ilumina: informações e análises sobre as privatizações
Em 1995, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso deu início às privatizações do setor elétrico, um grupo se reuniu na sede do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) para uma reunião. Na pauta, a criação de uma organização que pudesse produzir análises e informação crítica sobre a política em curso. Compareceram apenas quatro pessoas: Herbert de Souza, o Betinho, coordenador do Ibase e liderança da sociedade civil; Pinguelli Rosa, na época em seu segundo mandato como diretor da Coppe; e Agenor Oliveira e André Spitz, ambos funcionários da estatal Centrais Elétricas de Furnas.
“Nós estávamos esperando 50 pessoas…Ficamos desanimados, mas o Betinho nos contou a história do incêndio na floresta”, lembra Agenor, referindo-se a uma parábola sempre contada por Souza. A história, repetida em outras ocasiões pelo sociólogo, versava sobre um beija-flor que, diante de um incêndio na floresta, repetidamente trazia no bico água de um lago próximo, que jogava sobre as labaredas. Os outros animais corriam tentando salvar sua própria pele. “Você acha que vai apagar esse fogo sozinho?”, perguntou o leão. “Sei que não vou apagar esse fogo sozinho. Estou apenas fazendo a minha parte”, respondeu o pássaro. “Essa história foi extremamente importante para que não desistíssemos da proposta e nos aproximássemos mais”, conta Agenor.
Uma brigada contra o incêndio das privatizações tinha se organizado em Furnas. “O modelo do setor elétrico estava ruindo e o pessoal de Furnas tinha muita clareza disso. Na época do processo de revisão constitucional, os funcionários se engajaram muito no debate sobre a empresa pública e escreveram documentos que embasaram a discussão”, lembra André Spitz. Em 1996, essa mobilização daria origem ao Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico – Ilumina. Na assembleia de criação do Ilumina a maioria dos presentes trabalhava na estatal. “Sem o apoio do pessoal de Furnas não existiria o Ilumina”, completa André.
As atividades do Ilumina atraíram também outros interessados no setor elétrico, o movimento sindical e ativistas da sociedade civil. Ao longo dos anos, o Instituto se converteu em referência no debate sobre a política neoliberal. “O Ilumina tornou-se um baluarte da resistência à privatização do setor elétrico. Orgulho-me de ter sido um dos seus diretores”, escreveu Pinguelli Rosa em sua biografia.
Agenor lembra como fundamental a participação de Pinguelli no Instituto. “Ele ampliou a discussão e ajudou a trazer gente de outros estados, como o Ildo Sauer, pesquisador da USP, que já atuava conosco dentro do movimento sindical como uma espécie de interlocutor técnico”. A perspectiva de privatização a curto prazo de estatais como Furnas também atraiu novos membros para o Ilumina. “Os técnicos que tinham clareza do equívoco conceitual do projeto se aproximaram do Ilumina. Formou-se um leque amplo de colaboradores, independente da sua visão sobre o governo. Conseguimos, como diz Paulo Freire, atrair os divergentes para barrar os antagônicos”, completa Agenor.
Ao fim do governo de FHC, o Instituto da Cidadania convidou os integrantes do Ilumina a colaborar na formação de um programa de governo para a campanha presidencial do PT de 2003. O grupo de trabalho sobre energia, coordenado por Pinguelli, teve a participação de Agenor, Ildo Sauer e de Roberto Pereira D’Araujo, engenheiro e integrante da diretoria do Instituto.
Em 2003, com Lula empossado presidente, Pinguelli assumiu o comando da Eletrobras e convidou para trabalhar na estatal alguns dos integrantes do Ilumina. André Spitz tornou-se seu assessor; Agenor foi diretor da LightPar e Roberto D’Araujo coordenou o grupo Genese (Grupo de Estudos de Nova Estruturação do Setor Elétrico), iniciativa de Pinguelli destinada a produzir diagnósticos e propostas para o setor elétrico. O documento elaborado pelo grupo nunca foi divulgado ou debatido. Uma pena, já que, segundo Roberto D’Araújo, “apesar de ter sido escrito em 2003, o projeto GENESE diagnosticou muito da sequência de problemas que assistimos até hoje”.
“O Ilumina e a própria Eletrobras, durante o período de Pinguelli como presidente, tentaram mostrar que o modelo mercantil adotado no Brasil se adapta muito mal ao sistema físico brasileiro. (…) A história nos mostra que não houve um verdadeiro plano para resolver os problemas que nos atingem agora. Muitos desses desafios foram apontados pela Eletrobras com a orientação de Luiz Pinguelli Rosa. Nos anos seguintes, a Eletrobras foi usada para tentar sanar as deficiências. A forma e a dose fragilizaram a empresa e esse trabalho quase profético se perpetuasse”, escreveu D’Araújo, após a morte de Pinguelli.
O Ilumina tornou-se um baluarte da resistência à privatização do setor elétrico. Orgulho-me de ter sido um dos seus diretores “
Pinguelli
Instituto Ilumina: informações e análises sobre as privatizações
Em 1995, quando o governo de Fernando Henrique Cardoso deu início às privatizações do setor elétrico, um grupo se reuniu na sede do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) para uma reunião. Na pauta, a criação de uma organização que pudesse produzir análises e informação crítica sobre a política em curso. Compareceram apenas quatro pessoas: Herbert de Souza, o Betinho, coordenador do Ibase e liderança da sociedade civil; Pinguelli Rosa, na época em seu segundo mandato como diretor da Coppe; e Agenor Oliveira e André Spitz, ambos funcionários da estatal Centrais Elétricas de Furnas.
“Nós estávamos esperando 50 pessoas…Ficamos desanimados, mas o Betinho nos contou a história do incêndio na floresta”, lembra Agenor, referindo-se a uma parábola sempre contada por Souza. A história, repetida em outras ocasiões pelo sociólogo, versava sobre um beija-flor que, diante de um incêndio na floresta, repetidamente trazia no bico água de um lago próximo, que jogava sobre as labaredas. Os outros animais corriam tentando salvar sua própria pele. “Você acha que vai apagar esse fogo sozinho?”, perguntou o leão. “Sei que não vou apagar esse fogo sozinho. Estou apenas fazendo a minha parte”, respondeu o pássaro. “Essa história foi extremamente importante para que não desistíssemos da proposta e nos aproximássemos mais”, conta Agenor.
Uma brigada contra o incêndio das privatizações tinha se organizado em Furnas. “O modelo do setor elétrico estava ruindo e o pessoal de Furnas tinha muita clareza disso. Na época do processo de revisão constitucional, os funcionários se engajaram muito no debate sobre a empresa pública e escreveram documentos que embasaram a discussão”, lembra André Spitz. Em 1996, essa mobilização daria origem ao Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico – Ilumina. Na assembleia de criação do Ilumina a maioria dos presentes trabalhava na estatal. “Sem o apoio do pessoal de Furnas não existiria o Ilumina”, completa André.
As atividades do Ilumina atraíram também outros interessados no setor elétrico, o movimento sindical e ativistas da sociedade civil. Ao longo dos anos, o Instituto se converteu em referência no debate sobre a política neoliberal. “O Ilumina tornou-se um baluarte da resistência à privatização do setor elétrico. Orgulho-me de ter sido um dos seus diretores”, escreveu Pinguelli Rosa em sua biografia.
Agenor lembra como fundamental a participação de Pinguelli no Instituto. “Ele ampliou a discussão e ajudou a trazer gente de outros estados, como o Ildo Sauer, pesquisador da USP, que já atuava conosco dentro do movimento sindical como uma espécie de interlocutor técnico”. A perspectiva de privatização a curto prazo de estatais como Furnas também atraiu novos membros para o Ilumina. “Os técnicos que tinham clareza do equívoco conceitual do projeto se aproximaram do Ilumina. Formou-se um leque amplo de colaboradores, independente da sua visão sobre o governo. Conseguimos, como diz Paulo Freire, atrair os divergentes para barrar os antagônicos”, completa Agenor.
Ao fim do governo de FHC, o Instituto da Cidadania convidou os integrantes do Ilumina a colaborar na formação de um programa de governo para a campanha presidencial do PT de 2003. O grupo de trabalho sobre energia, coordenado por Pinguelli, teve a participação de Agenor, Ildo Sauer e de Roberto Pereira D’Araujo, engenheiro e integrante da diretoria do Instituto.
Em 2003, com Lula empossado presidente, Pinguelli assumiu o comando da Eletrobras e convidou para trabalhar na estatal alguns dos integrantes do Ilumina. André Spitz tornou-se seu assessor; Agenor foi diretor da LightPar e Roberto D’Araujo coordenou o grupo Genese (Grupo de Estudos de Nova Estruturação do Setor Elétrico), iniciativa de Pinguelli destinada a produzir diagnósticos e propostas para o setor elétrico. O documento elaborado pelo grupo nunca foi divulgado ou debatido. Uma pena, já que, segundo Roberto D’Araújo, “apesar de ter sido escrito em 2003, o projeto GENESE diagnosticou muito da sequência de problemas que assistimos até hoje”.
“O Ilumina e a própria Eletrobras, durante o período de Pinguelli como presidente, tentaram mostrar que o modelo mercantil adotado no Brasil se adapta muito mal ao sistema físico brasileiro. (…) A história nos mostra que não houve um verdadeiro plano para resolver os problemas que nos atingem agora. Muitos desses desafios foram apontados pela Eletrobras com a orientação de Luiz Pinguelli Rosa. Nos anos seguintes, a Eletrobras foi usada para tentar sanar as deficiências. A forma e a dose fragilizaram a empresa e esse trabalho quase profético se perpetuasse”, escreveu D’Araújo, após a morte de Pinguelli.
O Ilumina tornou-se um baluarte da resistência à privatização do setor elétrico. Orgulho-me de ter sido um dos seus diretores “
Pinguelli
MATERIAL RELACIONADO
LINKS
.
DOCUMENTOS E PUBLICAÇÕES
- Privatização provocou retração dos investimentos (Revista do Legislativo – Assembleia Legislativa de Minas Gerais, 2001)
.
ARTIGOS
- Como matar uma estatal (Herbert de Souza, Ilumina, 1990)
- Blecaute à vista? (Pinguelli, Folha de São Paulo, 20/10/1997)
- Tempo de balanços (Pinguelli, Folha de São Paulo, 31/12/1997)
- A privatização da privatização (Pinguelli, Folha de São Paulo, 28/12/1998)
- Falta de energia e de patriotismo (Pinguelli, Planeta Coppe, 13/4/1999)
- A Califórnia é aqui; vivemos uma crise disfarçada (Pinguelli, Folha de São Paulo, 1/2/2001)
- Sobre energia (Pinguelli, Roberto D´Araújo e Maurício Tolmasquim, Ilumina, 7/5/2002)
- A dívida com os consumidores (Pinguelli, Ilumina, 12/3/2004)
- O Ilumina foi criado em 1996 sob inspiração do saudoso Herbert de Souza (Roberto Pereira D´Araújo, Ilumina, 12/3/2004)
- Afinal, o que é “AccountAbility”? (Ilumina, 12/3/2004)
- Empresas de serviço público: Fácil transformá-las em empresas públicas e cidadãs (Olavo Cabral Ramos Filho, Ilumina, 12/3/2004)
- Equívocos sobre o leilão de energia (Pinguelli, Planeta Coppe, 14/1/2005)
- Carta enviada há um ano para a presidente eleita (Ilumina, 12/12/2011)
- Carta do Clube de Engenharia à Presidente (Ilumina, 24/6/2013)
- Onde estamos e para onde vamos? (José Antonio Feijó de Melo, Ilumina, 12/8/2014)
- Sem surpresas (Roberto Pereira D´Araújo, Ilumina, 17/3/2016)
- Não é melhor desligar essa máquina do tempo? (Roberto D´Araújo, Ilumina, 13/11/2018)
- Despedida (Roberto Pereira D´Araújo, Ilumina, 7/11/2021)
- Pinguelli e o modelo do setor elétrico (Roberto Pereira D´Araújo, Ilumina, 28/4/2022)
- Privatização da Eletrobras: Como chegamos a isso? (Roberto Pereira D´Araújo, Ilumina, 18/5/2022)
.
MATÉRIAS E REPORTAGENS
- Procon e Pinguelli criticam crise de energia elétrica no verão do Rio (Ilumina, 18/6/1998)
- Pinguelli Rosa contesta versão oficial sobre causa de blecaute (Folha de Londrina, 15/3/1999)
- Para físico, há risco de blecaute (Folha de São Paulo, 13/12/2000)
- Distribuidoras vão negociar as mudanças (Ilumina, 12/3/2004)
- Terceirização (Ilumina, 17/4/2004)
- Política ou outra política? (Ilumina, 20/4/2004)
- Falta autonomia à Eletrobrás, diz Pinguelli – Entrevista à Folha de SP (Ilumina, 7/6/2004)
- Governo não deveria priorizar termelétricas, critica ex-presidente da Eletrobrás (Agência Brasil, 17/1/2006)
- Professor critica falta de investimentos no setor elétrico (Agência Brasil, 20/7/2006)
- Pinguelli defende pacto para garantir a expansão (Ilumina, 22/8/2006)
- Por uma Eletrobrás mais dinâmica (Jornal do Commercio, 19/3/2007)
- Falta de planejamento e de investimento provocou atual crise de energia, diz Pinguelli (Agência Brasil, 9/1/2008)
- Pinguelli Rosa vê abertura para capitalização da estatal do setor elétrico (Agência Brasil, 14/3/2008)
- Crise pode exigir redirecionamento de investimentos no setor energético, diz Pinguelli (Agência Brasil, 12/11/2008)
- Nem Iraque nem Venezuela – Entrevista à Carta Capital (Ilumina, 9/9/2009)
- País não pode abrir mão de hidrelétricas, diz Pinguelli Rosa (Agência Brasil, 20/4/2010)
- Construção de hidrelétricas sempre gera impactos ambientais, afirma Pinguelli (Agência Brasil, 20/4/2010)
- ‘Governo põe em risco futuro das elétricas’, afirma Luiz Pinguelli Rosa (Instituto Humanitas Unisinos, 21/9/2012)
- Hidrelétricas estatais poderão ser novamente prejudicadas com redução das tarifas elétricas – Entrevista ao Correio da Cidadania (Ilumina, 10/10/2012)
- Governo deve rediscutir tarifas de energia (Ilumina, 21/11/2012)
- MP579 sepulta ideia de transformar Eletrobras numa Petrobras (Ilumina, 14/12/2012)
- A razão da crise elétrica (Ilumina, 29/1/2013)
- Atrasos em série dobram o risco de racionamento (Ilumina, 8/4/2013)
- “O clima criado com a redução das tarifas de energia prejudica o sistema” (Instituto Humanitas Unisinos, 6/2/2014)
- O que eles diziam em 2001- uma curiosidade (Ilumina, 27/3/2014)
- Diretor da Coppe defende economia voluntária de energia (Ilumina, 29/3/2014)
- “Novo Modelo” completa dez anos sob crise (Ilumina, 16/4/2014)
- Ingerência política na Eletrobras ajuda a causar rombo de R$ 13 bi desde 2012 (Ilumina, 5/5/2014)
- O óbvio mais uma vez (Ilumina, 3/2/2015)
- Perda de energia pode ser maior do que o estimado (Ilumina, 15/3/2015)
- Privatização da Eletrobrás: “o Brasil será o único país sem controle sobre um sistema integrado que construiu” (Correio da Cidadania, 2/10/2017)
- Venda da Eletrobras passa longe do interesse nacional (Vermelho, 23/2/2018)
- Seminário na Coppe/UFRJ refuta privatizações (Hora do Povo, 7/10/2019)
- Consequências da privatização da Eletrobras (Vermelho, 3/12/2019)
- Privatização da Eletrobras: conta de luz pode ficar até 25% mais cara (Vermelho, 23/6/2021)
- Crise energética: Entrevista Ildo Sauer (Ilumina, 24/6/2021)
- Vender a Eletrobras é parte da ilusão de que setor privado faz melhor (Vermelho, 2/6/2022)
.
PODCAST
- A transição energética e o papel do Estado (Ilumina Energia, 13/12/2020)
.
VÍDEOS