Debate e gestão no setor de energia

Pinguelli e a Petrobras: parceria na ciência, defesa na política

Um defensor de ideias nacionalistas, Pinguelli sempre foi sensível ao papel estratégico da Petrobras no desenvolvimento brasileiro. Ele ainda era cadete na Academia Militar das Agulhas Negras quando fez uma conferência intitulada “Porque me ufano do meu país”, em que exaltou a extração do petróleo no Brasil: “Estamos no Brasil no ano de 1962… tudo cheira à progresso à nossa volta (…) Passamos, nós próprios, a explorar nossas riquezas minerais em nosso benefício e iniciamos a industrialização… Jorra petróleo em Quereré, corre o gusa em Volta Redonda”.

Não admira, portanto, que ao assumir a direção da Coppe, em 1986, Pinguelli tenha buscado dar continuidade à parceria da instituição com a Petrobras. Nos seus mandatos, Pinguelli procurou ampliar os numerosos contratos com a empresa e implantou instalações voltadas especificamente para o setor do petróleo. Uma das suas principais parcerias com a estatal foi a reforma do I-2000, um complexo de laboratórios (veja texto).

A colaboração das duas instituições foi iniciada oficialmente em 1977, com a assinatura de um convênio entre a Petrobras e a Coppe. Na época, a Petrobras tinha diante de si o desafio de explorar as reservas de petróleo da Bacia de Campos. Pelo acordo, a Coppe desenvolveria sistemas computacionais para projetar estruturas em condições dinâmicas, como as plataformas marítimas. Com esses sistemas, a Petrobras poderia deixar de adquirir plataformas no exterior e projetar próprias estruturas, específicas para as condições do mar brasileiro. O programa também previa a formação de recursos humanos.

Ao longo dos anos, a cooperação se ampliou. “Juntas, a empresa, por meio do seu Centro de Pesquisas, o Cenpes, e a Coppe viabilizaram a criação de uma engenharia brasileira para a produção de petróleo. Assim, criaram uma rede de conhecimento sobre o tema que reúne, hoje, várias universidades e institutos de pesquisa.

Quando a meta da autossuficiência foi finalmente alcançada, em 2005, o Brasil já estava instalado entre os países líderes da tecnologia de exploração e produção em águas profundas”, afirma o texto de abertura da publicação “Corrida para o Mar”, assinado por Pinguelli, então diretor da Coppe, e outros membros da diretoria.

Na época, o Brasil vivia outro momento histórico. Em setembro de 2006, a Petrobras anunciara a descoberta de reservas de petróleo na camada pré-sal brasileiro. Explorar o óleo depositado sob uma camada de até 3 mil metros de água e 4 mil metros de sal e sedimentos seria um desafio tecnológico ainda maior que o da Bacia de Campos.

Para apoiar a busca pelos depósitos de petróleo do pré-sal, a Coppe ampliou a colaboração com a Petrobras e implantou novos laboratórios e linhas de pesquisa. Com recursos da estatal, criou o Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce), abrigo de um supercomputador formado por 7.200 processadores. Em 2007, foi criado o Centro de Pesquisas e Caracterização de Petróleo e Combustíveis (Coppecomb), dedicado ao desenvolvimento de metodologias para o conhecimento sobre os diversos tipos de petróleo brasileiro e de processos para melhorar a qualidade dos combustíveis.

Em 2009, foi inaugurado o Laboratório de Controle e Automação, Engenharia de Aplicação e Desenvolvimento (Lead), destinado a desenvolver equipamentos e metodologias de automação e controle na exploração e produção de petróleo e nas operações das refinarias. No mesmo ano, foi aberto o Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Soldagem (LNDC), dedicado ao estudo da corrosão e fadiga de materiais.

Em 2010, a Coppe e a Petrobras inauguraram o Bunker I, banco de provas para ensaios de óleos combustíveis pesados e lubrificantes produzidos no Brasil, área do Laboratório de Máquinas Térmicas (LMT) para realizar estudos sobre o desempenho desses produtos em motores marítimos e emissões de gases e partículas.

Em maio de 2013, a presidente da Petrobras, Graça Foster, deu a aula inaugural da Coppe e fez um balanço: a Coppe estava presente em 34 de 49 redes temáticas de pesquisa estabelecidas pela Petrobras; 407 contratos haviam sido assinados com a Petrobras desde 2006; mais de 360 mestres e 150 doutores formados pela Coppe trabalhavam na empresa. “É isso, são 45 anos de parceria, de uma Petrobras que faz 60 anos e da Coppe que faz 50 anos”, resumiu.
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Contra a privatização

Na parceria com a Petrobras, Pinguelli não se limitou a ampliar a pesquisa. Já no governo Itamar Franco, quando as privatizações de empresas públicas tiveram início, ele participou de inúmeros debates, além de audiências no Congresso Nacional, sobre o fim do monopólio da estatal. Na época, foi criado na Coppe o Centro de Estudos Energéticos (Energe), que produzia estudos sobre o setor e se tornou um foco de resistência às privatizações na área de energia. “Eu defendia que não era necessário mudar a legislação para haver participação privada no petróleo, pois a Petrobras tinha contratos de parceria com o setor privado”, recordou Pinguelli em sua autobiografia. A proposta de fim do monopólio nas áreas de prospecção, produção, refino e transporte foi vitoriosa no governo Fernando Henrique.

Quando, a partir de 2014, os executivos da Petrobras tornaram-se alvo das investigações da Operação Lava Jato sobre denúncias de corrupção, ele se preocupou em apontar a importância de preservar a empresa. Em dezembro daquele ano, Pinguelli promoveu um debate, intitulado “A crise da Petrobras”, no qual defendeu que as denúncias fossem investigadas, mas lembrou: “A Petrobras não se reduz a esses episódios. Trata-se de uma grande empresa, que tem toda uma história, e é detentora de uma tecnologia extremamente importante para o Brasil”.

Em 2015, quando Hugo Repsold Júnior, diretor de Gás e Energia da Petrobras, proferiu a aula inaugural da Coppe/UFRJ, Pinguelli lembrou o momento delicado vivido pela estatal: “Temos noção da responsabilidade dos diretores em conduzir a empresa nesse momento. Gostaria de destacar o papel importantíssimo dos engenheiros da companhia, que têm se mantido dedicados e exercendo suas funções com extrema competência”.

Durante o governo Bolsonaro, Pinguelli também combateu iniciativas governamentais que – ele dizia – privatizavam gradualmente a Petrobras. Depois da venda da subsidiária BR Distribuidora, em 2019, passou a combater a proposta governamental de vender refinarias da empresa, em 2020. “A maior refinadora do mundo é a ExxonMobil, com 5,5 milhões de barris por dia, seguida pela Shell, com 4,2 milhões. Suas refinarias se espalham pelo mundo, pois são empresas globais. Atualmente, a ExxonMobil está expandindo sua capacidade de refino nos EUA. A capacidade de refino da Petrobras é de 2,4 milhões barris por dia. Por que vender o controle de suas refinarias? Será que a ExxonMobil e a Shell estão erradas?”, escreveu em artigo publicado na Folha de S. Paulo. Numa live, ele resumiu: “É um erro crasso. Vender refinarias é deixar a Petrobras sem lucro, desdentada”.

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O problema é tirar a Petrobras e não a entrada de empresas estrangeiras. Elas já entraram. No caso da Petrobras, eu acho que cabe mais um nacionalismo. Ela é uma empresa com a característica de controlar uma reserva estratégica para o país, que é o petróleo. É uma política de abertura que não leva em conta uma visão estratégica de longo prazo. A Petrobras não pode deixar de ser o ator principal no jogo do petróleo nacional. “

Pinguelli

Pinguelli e a Petrobras: parceria na ciência, defesa na política

Um defensor de ideias nacionalistas, Pinguelli sempre foi sensível ao papel estratégico da Petrobras no desenvolvimento brasileiro. Ele ainda era cadete na Academia Militar das Agulhas Negras quando fez uma conferência intitulada “Porque me ufano do meu país”, em que exaltou a extração do petróleo no Brasil: “Estamos no Brasil no ano de 1962… tudo cheira à progresso à nossa volta (…) Passamos, nós próprios, a explorar nossas riquezas minerais em nosso benefício e iniciamos a industrialização… Jorra petróleo em Quereré, corre o gusa em Volta Redonda”.

Não admira, portanto, que ao assumir a direção da Coppe, em 1986, Pinguelli tenha buscado dar continuidade à parceria da instituição com a Petrobras. Nos seus mandatos, Pinguelli procurou ampliar os numerosos contratos com a empresa e implantou instalações voltadas especificamente para o setor do petróleo. Uma das suas principais parcerias com a estatal foi a reforma do I-2000, um complexo de laboratórios (veja texto).

A colaboração das duas instituições foi iniciada oficialmente em 1977, com a assinatura de um convênio entre a Petrobras e a Coppe. Na época, a Petrobras tinha diante de si o desafio de explorar as reservas de petróleo da Bacia de Campos. Pelo acordo, a Coppe desenvolveria sistemas computacionais para projetar estruturas em condições dinâmicas, como as plataformas marítimas. Com esses sistemas, a Petrobras poderia deixar de adquirir plataformas no exterior e projetar próprias estruturas, específicas para as condições do mar brasileiro. O programa também previa a formação de recursos humanos.

Ao longo dos anos, a cooperação se ampliou. “Juntas, a empresa, por meio do seu Centro de Pesquisas, o Cenpes, e a Coppe viabilizaram a criação de uma engenharia brasileira para a produção de petróleo. Assim, criaram uma rede de conhecimento sobre o tema que reúne, hoje, várias universidades e institutos de pesquisa. Quando a meta da autossuficiência foi finalmente alcançada, em 2005, o Brasil já estava instalado entre os países líderes da tecnologia de exploração e produção em águas profundas”, afirma o texto de abertura da publicação “Corrida para o Mar”, assinado por Pinguelli, então diretor da Coppe, e outros membros da diretoria.

Na época, o Brasil vivia outro momento histórico. Em setembro de 2006, a Petrobras anunciara a descoberta de reservas de petróleo na camada pré-sal brasileiro. Explorar o óleo depositado sob uma camada de até 3 mil metros de água e 4 mil metros de sal e sedimentos seria um desafio tecnológico ainda maior que o da Bacia de Campos.

Para apoiar a busca pelos depósitos de petróleo do pré-sal, a Coppe ampliou a colaboração com a Petrobras e implantou novos laboratórios e linhas de pesquisa. Com recursos da estatal, criou o Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce), abrigo de um supercomputador formado por 7.200 processadores. Em 2007, foi criado o Centro de Pesquisas e Caracterização de Petróleo e Combustíveis (Coppecomb), dedicado ao desenvolvimento de metodologias para o conhecimento sobre os diversos tipos de petróleo brasileiro e de processos para melhorar a qualidade dos combustíveis.

Em 2009, foi inaugurado o Laboratório de Controle e Automação, Engenharia de Aplicação e Desenvolvimento (Lead), destinado a desenvolver equipamentos e metodologias de automação e controle na exploração e produção de petróleo e nas operações das refinarias. No mesmo ano, foi aberto o Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Soldagem (LNDC), dedicado ao estudo da corrosão e fadiga de materiais.

Em 2010, a Coppe e a Petrobras inauguraram o Bunker I, banco de provas para ensaios de óleos combustíveis pesados e lubrificantes produzidos no Brasil, área do Laboratório de Máquinas Térmicas (LMT) para realizar estudos sobre o desempenho desses produtos em motores marítimos e emissões de gases e partículas.

Em maio de 2013, a presidente da Petrobras, Graça Foster, deu a aula inaugural da Coppe e fez um balanço: a Coppe estava presente em 34 de 49 redes temáticas de pesquisa estabelecidas pela Petrobras; 407 contratos haviam sido assinados com a Petrobras desde 2006; mais de 360 mestres e 150 doutores formados pela Coppe trabalhavam na empresa. “É isso, são 45 anos de parceria, de uma Petrobras que faz 60 anos e da Coppe que faz 50 anos”, resumiu.
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Contra a privatização

Na parceria com a Petrobras, Pinguelli não se limitou a ampliar a pesquisa. Já no governo Itamar Franco, quando as privatizações de empresas públicas tiveram início, ele participou de inúmeros debates, além de audiências no Congresso Nacional, sobre o fim do monopólio da estatal. Na época, foi criado na Coppe o Centro de Estudos Energéticos (Energe), que produzia estudos sobre o setor e se tornou um foco de resistência às privatizações na área de energia. “Eu defendia que não era necessário mudar a legislação para haver participação privada no petróleo, pois a Petrobras tinha contratos de parceria com o setor privado”, recordou Pinguelli em sua autobiografia. A proposta de fim do monopólio nas áreas de prospecção, produção, refino e transporte foi vitoriosa no governo Fernando Henrique.

Quando, a partir de 2014, os executivos da Petrobras tornaram-se alvo das investigações da Operação Lava Jato sobre denúncias de corrupção, ele se preocupou em apontar a importância de preservar a empresa. Em dezembro daquele ano, Pinguelli promoveu um debate, intitulado “A crise da Petrobras”, no qual defendeu que as denúncias fossem investigadas, mas lembrou: “A Petrobras não se reduz a esses episódios. Trata-se de uma grande empresa, que tem toda uma história, e é detentora de uma tecnologia extremamente importante para o Brasil”.

Em 2015, quando Hugo Repsold Júnior, diretor de Gás e Energia da Petrobras, proferiu a aula inaugural da Coppe/UFRJ, Pinguelli lembrou o momento delicado vivido pela estatal: “Temos noção da responsabilidade dos diretores em conduzir a empresa nesse momento. Gostaria de destacar o papel importantíssimo dos engenheiros da companhia, que têm se mantido dedicados e exercendo suas funções com extrema competência”.

Durante o governo Bolsonaro, Pinguelli também combateu iniciativas governamentais que – ele dizia – privatizavam gradualmente a Petrobras. Depois da venda da subsidiária BR Distribuidora, em 2019, passou a combater a proposta governamental de vender refinarias da empresa, em 2020. “A maior refinadora do mundo é a ExxonMobil, com 5,5 milhões de barris por dia, seguida pela Shell, com 4,2 milhões. Suas refinarias se espalham pelo mundo, pois são empresas globais. Atualmente, a ExxonMobil está expandindo sua capacidade de refino nos EUA. A capacidade de refino da Petrobras é de 2,4 milhões barris por dia. Por que vender o controle de suas refinarias? Será que a ExxonMobil e a Shell estão erradas?”, escreveu em artigo publicado na Folha de S. Paulo. Numa live, ele resumiu: “É um erro crasso. Vender refinarias é deixar a Petrobras sem lucro, desdentada”.

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O problema é tirar a Petrobras e não a entrada de empresas estrangeiras. Elas já entraram. No caso da Petrobras, eu acho que cabe mais um nacionalismo. Ela é uma empresa com a característica de controlar uma reserva estratégica para o país, que é o petróleo. É uma política de abertura que não leva em conta uma visão estratégica de longo prazo. A Petrobras não pode deixar de ser o ator principal no jogo do petróleo nacional. 

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VÍDEOS

Discurso do presidente Lula na inauguração do Laboratório de Ensaios não Destrutivos, Corrosão e Soldagem (LNDC) da Coppe (Coppe UFRJ, 30 abr 2009)
60 anos da Petrobras (AEPET TV, 2013)
Aula inaugural da Coppe 2013 com a presidente da Petrobras Graça Foster (Coppe UFRJ, 20 mai 2013)
Pinguelli no Seminário “O petróleo, o Pré-Sal e a Petrobras” (Clube de Engenharia, 10 nov 2016)
Privatização da Eletrobras – 1º debate da série “Crise da Engenharia Nacional” (Clube de Engenharia, 13 nov 2017)
Lançamento do documento “Um projeto para o Brasil” (Clube de Engenharia, 22 ago 2018)
#PetrobrasFica recebe Luiz Pinguelli Rosa (Coppe UFRJ, nov 2020)