Defesa do meio ambiente

Pinguelli e o IPCC, clima em mudança exige mudanças sociais

A relação entre os temas Energia e Clima sempre esteve evidente para Luiz Pinguelli Rosa. Em 1979, quando o professor liderou a criação do Programa de Planejamento Energético (PPE) da Coppe, o Planejamento Ambiental já foi incluído como eixo de pesquisa. O PPE daria origem ao Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (LIMA), em 1997, dedicado a pesquisas e a avaliação de impactos do sistema energético e avaliações ambientais estratégicas para planejamento e gestão ambiental.

Em 2000, foi criado no Lima o Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima). Sob a coordenação de Pinguelli, o Centro passou a ser responsável por inventários de emissões de gases de efeito estufa. Passou também a concentrar no Brasil os critérios e análise técnica de projetos destinados ao mercado de carbono, através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Em 2005, por exemplo, o Centro Clima produziu o inventário de gases de efeito estufa da maior metrópole brasileira, São Paulo. O estudo mostrou que os automóveis particulares, os aterros sanitários e o transporte pesado eram os principais responsáveis pelas emissões de dióxido de carbono e metano.

Como era seu estilo, Pinguelli sempre se preocupou em associar a reflexão sobre a desigualdade social e política ao tema ambiental. Em debates e artigos, ele ressaltava que a diminuição das emissões de gases de efeito estufa deveria ser acompanhada da redução da desigualdade social: “Os países em desenvolvimento tendem a aumentar emissões com o crescimento econômico, seguindo os padrões de produção e de consumo dos países desenvolvidos (…). Por outro lado, as classes de renda mais alta têm alto consumo de energia per capita, enquanto a população pobre tem consumo de energia muito baixo. Assim, a desigualdade na emissão de gases do efeito segue a desigualdade na distribuição de renda. Deve-se resolver o problema das emissões juntamente com o da exclusão”, escreveu ele, em artigo publicado na Folha de S. Paulo.

Como era seu estilo, o pesquisador estabeleceu colaborações e parcerias internacionais a partir do seu trabalho com o clima. Pinguelli Rosa articulou com os colegas pesquisadores Irving Mintzer, norte-americano, Okuba Sokona, do Senegal e Ogunlade Davidson, de Serra Leoa, uma rede de cooperação internacional sobre mudanças climáticas, intitulada South-South-North. A rede funcionou por anos, promovendo eventos em conferências do Clima da ONU, editando publicações e organizando seminários.

Um evento marcante ocorreu em 2006, quando Pinguelli juntou o Forum Brasileiro de Mudanças Climáticas, do qual era o secretário executivo, e a Coppe, da qual era diretor, para realizar um debate intitulado “A Dimensão Ética nas Mudanças Climáticas”. “A mudança climática do planeta deixou de ser um problema das ciências exatas. As consequências do aquecimento global – que afetarão populações inteiras, alterando profundamente a agricultura, a engenharia e a medicina em muitas partes do mundo – devem ser discutidas também à luz da ética, da equidade e da justiça social”, dizia o anúncio do encontro, também foi coordenado pela professora da Coppe Maria Silvia Muylaert.

O evento teve a presença de especialistas brasileiros, como Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e estrangeiros, como o vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Mohan Munasinghe.

A relação de Pinguelli com o IPCC começou em 1998, quando o cientista participou pela primeira vez de um encontro do Painel, na USP. “Escrevi então um pequeno artigo, preocupado com os aspectos políticos da responsabilização dos países por essas emissões. Acabei me envolvendo na pesquisa. Desenvolvemos um projeto para o Ibama e fizemos um primeiro inventário das emissões de gases de efeito estufa pelo sistema energético brasileiro”, escreveu Pinguelli em sua autobiografia.

A pesquisa foi desenvolvida com o colega Marco Aurélio Santos, em colaboração com colegas da USP. O objetivo do projeto era medir as emissões de fases de efeito estufa em nove barragens do sistema hidrelétrico brasileiro e desenvolver um modelo de cálculo que permitisse a comparação com as de usinas termoelétricas. “Até o momento, as hidrelétricas emitem menos do que as termoelétricas na maioria dos casos estudados”, resumiu Pinguelli, ao término do levantamento. O estudo foi tema de artigos em revistas científicas internacionais e estabeleceu um papel pioneiro para o Brasil na questão.

Nos anos seguintes, Pinguelli seguiu como autor ou revisor dos painéis do IPCC. A organização da ONU tem como objetivo principal sintetizar e divulgar o conhecimento sobre mudanças climáticas. O IPCC não produz pesquisa original, mas reúne e resume o conhecimento produzido por cientistas de alto nível independentes e ligados a organizações e governos. “O Painel reúne cientistas de todo mundo, apontados pelos seus governos, e selecionados para garantir um equilíbrio de gênero e região”, explica a vice-diretora da Coppe, Suzana Kahn. Companheira de Pinguelli e mãe de um dos seus filhos, a pesquisadora é especialista no tema das mudanças climáticas, vice-presidente de um dos grupos de trabalho do Painel e chegou a compor o Board – ou Conselho – do IPCC.

“O que nós fazemos, basicamente, é uma revisão de toda a literatura para identificar o que é realmente relevante para políticas climáticas”, resume Suzana. “O IPCC tem o Board, tem os autores líderes, os autores e os revisores. O Pinguelli foi autor e depois revisor”, lembra ela. A produção do IPCC se traduz em documentos e relatórios elaborados por centenas de autores líderes e assistentes.

Em 2007, o IPCC ganhou o Prêmio Nobel da Paz, ao lado do ex-vice-presidente americano Al Gore. Em novembro, numa reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FMBC) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva homenageou os membros brasileiros do Painel. Dos mais de 600 autores do relatório do IPCC, 61 eram brasileiros, incluindo Pinguelli Rosa e Suzana Kahn. “Fiquei honrado”, disse o professor.

As mudanças climáticas trarão riscos para o futuro da humanidade. A redução das grandes geleiras é um indício dado pelo IPCC. Os países em desenvolvimento tendem a aumentar emissões com o crescimento econômico, seguindo os padrões de produção e de consumo dos países desenvolvidos, que são trazidos pelas grandes empresas transnacionais. Por outro lado, as classes de renda mais alta têm alto consumo de energia per capita enquanto a população pobre tem consumo de energia muito baixo. Assim, a desigualdade na emissão de gases do efeito segue a desigualdade na distribuição de renda. Deve-se resolver o problema das emissões juntamente com o da exclusão.”

Pinguelli

Pinguelli e o IPCC, clima em mudança exige mudanças sociais

A relação entre os temas Energia e Clima sempre esteve evidente para Luiz Pinguelli Rosa. Em 1979, quando o professor liderou a criação do Programa de Planejamento Energético (PPE) da Coppe, o Planejamento Ambiental já foi incluído como eixo de pesquisa. O PPE daria origem ao Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (LIMA), em 1997, dedicado a pesquisas e a avaliação de impactos do sistema energético e avaliações ambientais estratégicas para planejamento e gestão ambiental.

Em 2000, foi criado no Lima o Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima). Sob a coordenação de Pinguelli, o Centro passou a ser responsável por inventários de emissões de gases de efeito estufa. Passou também a concentrar no Brasil os critérios e análise técnica de projetos destinados ao mercado de carbono, através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Em 2005, por exemplo, o Centro Clima produziu o inventário de gases de efeito estufa da maior metrópole brasileira, São Paulo. O estudo mostrou que os automóveis particulares, os aterros sanitários e o transporte pesado eram os principais responsáveis pelas emissões de dióxido de carbono e metano.

Como era seu estilo, Pinguelli sempre se preocupou em associar a reflexão sobre a desigualdade social e política ao tema ambiental. Em debates e artigos, ele ressaltava que a diminuição das emissões de gases de efeito estufa deveria ser acompanhada da redução da desigualdade social: “Os países em desenvolvimento tendem a aumentar emissões com o crescimento econômico, seguindo os padrões de produção e de consumo dos países desenvolvidos (…). Por outro lado, as classes de renda mais alta têm alto consumo de energia per capita, enquanto a população pobre tem consumo de energia muito baixo. Assim, a desigualdade na emissão de gases do efeito segue a desigualdade na distribuição de renda. Deve-se resolver o problema das emissões juntamente com o da exclusão”, escreveu ele, em artigo publicado na Folha de S. Paulo.

Como era seu estilo, o pesquisador estabeleceu colaborações e parcerias internacionais a partir do seu trabalho com o clima. Pinguelli Rosa articulou com os colegas pesquisadores Irving Mintzer, norte-americano, Okuba Sokona, do Senegal e Ogunlade Davidson, de Serra Leoa, uma rede de cooperação internacional sobre mudanças climáticas, intitulada South-South-North. A rede funcionou por anos, promovendo eventos em conferências do Clima da ONU, editando publicações e organizando seminários.

Um evento marcante ocorreu em 2006, quando Pinguelli juntou o Forum Brasileiro de Mudanças Climáticas, do qual era o secretário executivo, e a Coppe, da qual era diretor, para realizar um debate intitulado “A Dimensão Ética nas Mudanças Climáticas”. “A mudança climática do planeta deixou de ser um problema das ciências exatas. As consequências do aquecimento global – que afetarão populações inteiras, alterando profundamente a agricultura, a engenharia e a medicina em muitas partes do mundo – devem ser discutidas também à luz da ética, da equidade e da justiça social”, dizia o anúncio do encontro, também foi coordenado pela professora da Coppe Maria Silvia Muylaert.

O evento teve a presença de especialistas brasileiros, como Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e estrangeiros, como o vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Mohan Munasinghe.

A relação de Pinguelli com o IPCC começou em 1998, quando o cientista participou pela primeira vez de um encontro do Painel, na USP. “Escrevi então um pequeno artigo, preocupado com os aspectos políticos da responsabilização dos países por essas emissões. Acabei me envolvendo na pesquisa. Desenvolvemos um projeto para o Ibama e fizemos um primeiro inventário das emissões de gases de efeito estufa pelo sistema energético brasileiro”, escreveu Pinguelli em sua autobiografia.

A pesquisa foi desenvolvida com o colega Marco Aurélio Santos, em colaboração com colegas da USP. O objetivo do projeto era medir as emissões de fases de efeito estufa em nove barragens do sistema hidrelétrico brasileiro e desenvolver um modelo de cálculo que permitisse a comparação com as de usinas termoelétricas. “Até o momento, as hidrelétricas emitem menos do que as termoelétricas na maioria dos casos estudados”, resumiu Pinguelli, ao término do levantamento. O estudo foi tema de artigos em revistas científicas internacionais e estabeleceu um papel pioneiro para o Brasil na questão.

Nos anos seguintes, Pinguelli seguiu como autor ou revisor dos painéis do IPCC. A organização da ONU tem como objetivo principal sintetizar e divulgar o conhecimento sobre mudanças climáticas. O IPCC não produz pesquisa original, mas reúne e resume o conhecimento produzido por cientistas de alto nível independentes e ligados a organizações e governos. “O Painel reúne cientistas de todo mundo, apontados pelos seus governos, e selecionados para garantir um equilíbrio de gênero e região”, explica a vice-diretora da Coppe, Suzana Kahn. Companheira de Pinguelli e mãe de um dos seus filhos, a pesquisadora é especialista no tema das mudanças climáticas, vice-presidente de um dos grupos de trabalho do Painel e chegou a compor o Board – ou Conselho – do IPCC.

“O que nós fazemos, basicamente, é uma revisão de toda a literatura para identificar o que é realmente relevante para políticas climáticas”, resume Suzana. “O IPCC tem o Board, tem os autores líderes, os autores e os revisores. O Pinguelli foi autor e depois revisor”, lembra ela. A produção do IPCC se traduz em documentos e relatórios elaborados por centenas de autores líderes e assistentes.

Em 2007, o IPCC ganhou o Prêmio Nobel da Paz, ao lado do ex-vice-presidente americano Al Gore. Em novembro, numa reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FMBC) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva homenageou os membros brasileiros do Painel. Dos mais de 600 autores do relatório do IPCC, 61 eram brasileiros, incluindo Pinguelli Rosa e Suzana Kahn. “Fiquei honrado”, disse o professor.

As mudanças climáticas trarão riscos para o futuro da humanidade. A redução das grandes geleiras é um indício dado pelo IPCC. Os países em desenvolvimento tendem a aumentar emissões com o crescimento econômico, seguindo os padrões de produção e de consumo dos países desenvolvidos, que são trazidos pelas grandes empresas transnacionais. Por outro lado, as classes de renda mais alta têm alto consumo de energia per capita enquanto a população pobre tem consumo de energia muito baixo. Assim, a desigualdade na emissão de gases do efeito segue a desigualdade na distribuição de renda. Deve-se resolver o problema das emissões juntamente com o da exclusão.”

Pinguelli

MATERIAL RELACIONADO

.

LINKS E DOCUMENTOS

.

ARTIGOS

.

MATÉRIAS, ENTREVISTAS E REPORTAGENS 

.

VÍDEOS

Reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas  (TV BrasilGov, abr/2012)
Apresentação dos resultados do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (TV BrasilGov, abr/2012)
Debates FEE: “Tecnociência e Desenvolvimento” (Fundaçã de Economia e Estatística, out/2012)
PARTE 2 – https://www.youtube.com/watch?v=v-UhUJ_Mh2I
Climatempo: Luiz Pinguelli Rosa (Climatempo Metereologia, 2013)
Café Filosófico: A matriz energética brasileira e a mudança do clima (Percy Reflexão, jul/2013)
Diálogos sobre política externa: Luiz Pinguelli Rosa (Ministério das Relações Exteriores, abr/2014)
EcoSenado – Entrevista especial (TV Senado, abr/2015)
Brasil prepara plano para as adaptações nas mudanças climáticas (TV BrasilGov, ago/2015)
Conferência do Clima (COP-21)- Observatório da Imprensa (TV Brasil, nov/2015)
Conferência Internacional do INCT para Mudanças Climáticas (Agência Sapiens, 2017)