Defensor da democracia plena e crítico do neoliberalismo

AdUFRJ e Andes: luta política e trabalhista

A fundação da Associação dos Docentes da UFRJ (AdUFRJ), em 1979, foi um dos eventos que marcaram a reorganização da esquerda e a resistência aberta ao regime militar. As universidades foram alvo preferencial da ditadura, que promoveu a censura, a perseguição, a prisão e a tortura de professores e estudantes.
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A Universidade de Brasília (UNB) foi ocupada por tropas militares em 1964 e 1965. Em 1966, durante o chamado Massacre da Praia Vermelha, 300 estudantes de Medicina da UFRJ foram espancados e 23 mortos.

Em 1969, após a edição do AI-5, o regime editou o decreto-lei nº 477, que previa a punição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados culpados de subversão ao regime. A lei previa que professores seriam demitidos e ficariam impossibilitados de trabalhar em qualquer outra instituição educacional do país por cinco anos; estudantes seriam expulsos e proibidos de cursar qualquer universidade por três anos.

Segundo o professor do Departamento de História da UFMG Rodrigo Patto Sá Motta, autor do livro As universidades e o regime militar, pelo menos uma centena de professores universitários foram afastados. Por esta contabilidade, a UFRJ foi a mais afetada, com 23 professores retirados do trabalho, seguida pela USP (com 22 docentes) e UFRGS (18).

O processo de organização da associação teve início em 1976, com a criação de uma comissão para discutir uma reforma da universidade. Pinguelli Rosa tornou-se presidente da primeira diretoria, representando uma ala de esquerda moderada, em 1979. A associação foi a segunda criada numa universidade federal – precedida apenas pela USP. Logo organizações semelhantes surgiram em universidades de todo o Brasil, representadas pelo Conselho Nacional da Associações de Docentes (Conad).

Pouco após a fundação, a AdUFRJ realizou um ato de grande repercussão, em que a diretoria deu o título de sócio a todos os professores afastados pela ditadura militar. Os nomes dos pesquisadores – Darcy Ribeiro, José Leite Lopes, Maria Yeda Linhares, entre outros – era chamado para que o convidado recebesse um diploma de sócio honorário. Tudo diante de uma plateia de mais de mil pessoas.

“O maior desafio de nossa primeira gestão, sem dúvida, foi enfrentar a ditadura militar, que era repressiva. Era muito difícil, foi ainda antes da Anistia, mas enfrentamos com organização e mobilização”, escreveu Pinguelli, em um artigo. Além da oposição ao regime, as associações de docentes também se mobilizaram por melhorias salariais e de carreira.

“Em 1980, fizemos uma greve histórica que parou a UFRJ e outras universidades do país. Foi um momento de tensão em que a AdUFRJ teve papel importante na defesa da pauta dos professores, por melhorias salariais e mais verbas para a Educação”, recorda Pinguelli no mesmo artigo, escrito para a comemoração dos 42 anos da entidade. O ministro da Educação, Eduardo Portella, pediu exoneração em 26/11/1980, por apoiar publicamente a greve, e no dia seguinte o presidente João Figueiredo nomeou um general, Rubem Carlos Ludwig, para o posto. Surpreendentemente, o militar aceitou negociar com os grevistas, como descreve Pinguelli. “Nós conseguimos ser recebidos pelo Ludwig na antiga sede do MEC, aqui no Rio. Estávamos em assembleia, com mais de 500 pessoas no auditório, e chegou a informação de que o general, o único militar que foi ministro da Educação até hoje, estava no Rio. Fomos até lá e ele concordou em receber uma comissão de professores”.

A greve, de fato, obteve do ministro um plano de carreira para os professores universitários. A vitória impulsionou a criação da Andes – Associação dos Docentes de Ensino Superior, atual Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior. Uma reunião nacional das associações de docentes, em fevereiro de 1981, em Campinas, marcou a fundação da nova entidade. Cotado para presidir a organização, Pinguelli Rosa foi derrotado por correntes políticas contrárias, mas termimou eleito secretário geral, em nome da unidade do movimento. Mais tarde, seria eleito para o comando. “Foi um período gratificante: a Andes se aproximou do SBPC e teve papel importante no debate que levou à fundação da CUT, bem como na campanha pelas eleições diretas”, escreveu Pinguelli.

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Creio que depois das greves operárias do ABC paulista aquele era o mais importante movimento grevista a desafiar a ditadura”

Pinguelli sobre a greve de 1980 que parou a UFRJ e outras universidades do País,
extraído do livro Memórias – De Vargas a Lula

AdUFRJ e Andes: luta política e trabalhista

A fundação da Associação dos Docentes da UFRJ (AdUFRJ), em 1979, foi um dos eventos que marcaram a reorganização da esquerda e a resistência aberta ao regime militar. As universidades foram alvo preferencial da ditadura, que promoveu a censura, a perseguição, a prisão e a tortura de professores e estudantes. A Universidade de Brasília (UNB) foi ocupada por tropas militares em 1964 e 1965. Em 1966, durante o chamado Massacre da Praia Vermelha, 300 estudantes de Medicina da UFRJ foram espancados e 23 mortos.

Em 1969, após a edição do AI-5, o regime editou o decreto-lei nº 477, que previa a punição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados culpados de subversão ao regime. A lei previa que professores seriam demitidos e ficariam impossibilitados de trabalhar em qualquer outra instituição educacional do país por cinco anos; estudantes seriam expulsos e proibidos de cursar qualquer universidade por três anos.

Segundo o professor do Departamento de História da UFMG Rodrigo Patto Sá Motta, autor do livro As universidades e o regime militar, pelo menos uma centena de professores universitários foram afastados. Por esta contabilidade, a UFRJ foi a mais afetada, com 23 professores retirados do trabalho, seguida pela USP (com 22 docentes) e UFRGS (18).

O processo de organização da associação teve início em 1976, com a criação de uma comissão para discutir uma reforma da universidade. Pinguelli Rosa tornou-se presidente da primeira diretoria, representando uma ala de esquerda moderada, em 1979. A associação foi a segunda criada numa universidade federal – precedida apenas pela USP. Logo organizações semelhantes surgiram em universidades de todo o Brasil, representadas pelo Conselho Nacional da Associações de Docentes (Conad).

Pouco após a fundação, a AdUFRJ realizou um ato de grande repercussão, em que a diretoria deu o título de sócio a todos os professores afastados pela ditadura militar. Os nomes dos pesquisadores – Darcy Ribeiro, José Leite Lopes, Maria Yeda Linhares, entre outros – era chamado para que o convidado recebesse um diploma de sócio honorário. Tudo diante de uma plateia de mais de mil pessoas.

“O maior desafio de nossa primeira gestão, sem dúvida, foi enfrentar a ditadura militar, que era repressiva. Era muito difícil, foi ainda antes da Anistia, mas enfrentamos com organização e mobilização”, escreveu Pinguelli, em um artigo. Além da oposição ao regime, as associações de docentes também se mobilizaram por melhorias salariais e de carreira.

“Em 1980, fizemos uma greve histórica que parou a UFRJ e outras universidades do país. Foi um momento de tensão em que a AdUFRJ teve papel importante na defesa da pauta dos professores, por melhorias salariais e mais verbas para a Educação”, recorda Pinguelli no mesmo artigo, escrito para a comemoração dos 42 anos da entidade. O ministro da Educação, Eduardo Portella, pediu exoneração em 26/11/1980, por apoiar publicamente a greve, e no dia seguinte o presidente João Figueiredo nomeou um general, Rubem Carlos Ludwig, para o posto. Surpreendentemente, o militar aceitou negociar com os grevistas, como descreve Pinguelli. “Nós conseguimos ser recebidos pelo Ludwig na antiga sede do MEC, aqui no Rio. Estávamos em assembleia, com mais de 500 pessoas no auditório, e chegou a informação de que o general, o único militar que foi ministro da Educação até hoje, estava no Rio. Fomos até lá e ele concordou em receber uma comissão de professores”.

A greve, de fato, obteve do ministro um plano de carreira para os professores universitários. A vitória impulsionou a criação da Andes – Associação dos Docentes de Ensino Superior, atual Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior. Uma reunião nacional das associações de docentes, em fevereiro de 1981, em Campinas, marcou a fundação da nova entidade. Cotado para presidir a organização, Pinguelli Rosa foi derrotado por correntes políticas contrárias, mas termimou eleito secretário geral, em nome da unidade do movimento. Mais tarde, seria eleito para o comando. “Foi um período gratificante: a Andes se aproximou do SBPC e teve papel importante no debate que levou à fundação da CUT, bem como na campanha pelas eleições diretas”, escreveu Pinguelli.

Creio que depois das greves operárias do ABC paulista aquele era o mais importante movimento grevista a desafiar a ditadura”

Pinguelli sobre a greve de 1980 que parou a UFRJ e outras universidades do País, extraído do livro Memórias – De Vargas a Lula

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