Serra do Cachimbo
As ambições nucleares do governo militar não se limitaram às usinas de Angra. Nos anos seguintes, a Marinha decidiu construir um submarino com propulsão nuclear. Para isso, implantou uma planta de enriquecimento de urânio. A Força Aérea e o Exército também iniciaram projetos nucleares. Em 1986, Pinguelli Rosa recebeu do geólogo Arno Bertoldo a notícia de que a Companhia Brasileira de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) fazia uma perfuração de grandes dimensões na Serra do Cachimbo, no Pará. Só que no local não havia jazidas de interesse para a empresa.
Segundo conta em sua autobiografia, Pinguelli sugeriu que a história fosse relatada à imprensa, para que o governo fosse obrigado a se explicar. De fato, em 8 de agosto, a Folha de São Paulo publicou uma extensa reportagem de Elvira Lobato, com o título: “Serra do Cachimbo pode ser local de provas nucleares”. Segundo a reportagem, o primeiro poço tinha 320 metros de profundidade e um metro de diâmetro. O governo afirmava não saber do assunto.
Pinguelli Rosa e outros dois pesquisadores foram indicados pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) para uma comissão dedicada a estudar o caso. A comissão produziu um relatório incisivo, em que a firmava que a perfuração poderia ser destinada a uma bomba de potência semelhante à de Hiroshima. Pinguelli também participou de uma comissão da SBPC, que produziu um texto que também afirmava que o local poderia ser usado para testes nucleares. Durante anos o governo e as Forças Armadas negaram que a perfuração fosse destinada a este fim.
Até que, em setembro de 1990, Fernando Collor foi até a Serra do Cachimbo e jogou uma pá de cal no poço, repudiando a aventura. Pouco depois, anunciou nas Nações Unidas que o Brasil se comprometia a não realizar qualquer teste que implicasse em explosões nucleares, mesmo que para fins pacíficos.
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Se o bicho é grande, tem orelhas enormes, patas grossas e uma tromba, eu deduzo que é um elefante, até prova em contrário”
Pinguelli sobre a perfuração com 320m de profundidade e cerca de 1m de diâmetro na Base Aérea de Cachimbo, extraído do livro Memórias – De Vargas a Lula
Serra do Cachimbo
As ambições nucleares do governo militar não se limitaram às usinas de Angra. Nos anos seguintes, a Marinha decidiu construir um submarino com propulsão nuclear. Para isso, implantou uma planta de enriquecimento de urânio. A Força Aérea e o Exército também iniciaram projetos nucleares. Em 1986, Pinguelli Rosa recebeu do geólogo Arno Bertoldo a notícia de que a Companhia Brasileira de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) fazia uma perfuração de grandes dimensões na Serra do Cachimbo, no Pará. Só que no local não havia jazidas de interesse para a empresa.
Segundo conta em sua autobiografia, Pinguelli sugeriu que a história fosse relatada à imprensa, para que o governo fosse obrigado a se explicar. De fato, em 8 de agosto, a Folha de São Paulo publicou uma extensa reportagem de Elvira Lobato, com o título: “Serra do Cachimbo pode ser local de provas nucleares”. Segundo a reportagem, o primeiro poço tinha 320 metros de profundidade e um metro de diâmetro. O governo afirmava não saber do assunto.
Pinguelli Rosa e outros dois pesquisadores foram indicados pela Sociedade Brasileira de Física (SBF) para uma comissão dedicada a estudar o caso. A comissão produziu um relatório incisivo, em que a firmava que a perfuração poderia ser destinada a uma bomba de potência semelhante à de Hiroshima. Pinguelli também participou de uma comissão da SBPC, que produziu um texto que também afirmava que o local poderia ser usado para testes nucleares. Durante anos o governo e as Forças Armadas negaram que a perfuração fosse destinada a este fim.
Até que, em setembro de 1990, Fernando Collor foi até a Serra do Cachimbo e jogou uma pá de cal no poço, repudiando a aventura. Pouco depois, anunciou nas Nações Unidas que o Brasil se comprometia a não realizar qualquer teste que implicasse em explosões nucleares, mesmo que para fins pacíficos.
Se o bicho é grande, tem orelhas enormes, patas grossas e uma tromba, eu deduzo que é um elefante, até prova em contrário”
Pinguelli sobre a perfuração com 320m de profundidade e cerca de 1m de diâmetro na Base Aérea de Cachimbo, extraído do livro Memórias – De Vargas a Lula
MATERIAL RELACIONADO
DOCUMENTOS
- Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a apurar o Programa Autônomo de Energia Nuclear, também conhecido como “Programa Paralelo” (Senado Federal, 1990)
ARTIGOS DE PINGUELLI
- Tecnologia nuclear – é preciso sair do controle militar (Folha de São Paulo, 12/9/1987)
- Nós quem? Nem todos os físicos estão de acordo com o projeto nuclear da Marinha (Jornal do Brasil, 29/5/1988)
- Índia e Brasil: camisa de sardinha não dá em baleias (Folha de São Paulo, 24/2/1996)
- Hiroshima, Nagasaki, Angra, um percurso (O Globo, 12/9/1999)
- A Física entre a guerra e a paz – reflexões sobre a responsabilidade social da ciência (Ciência e Cultura/SBPC, 7-9/2005)
- A sombra de Hiroshima sobre nós: 60 anos depois (Planeta Coppe, 2/8/2006)
- A batalha atômica (Planeta Coppe, 4/8/2006)
- Bomba? Não! (DW Brasil, 14/5/2010)
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MATÉRIAS E REPORTAGENS
- Collor fecha buraco para testes atômicos | Governo admite finalidade do poço (O Globo, 19/9/1990)
- O “Dia Seguinte” entre nós – uma discussão brasileira em torno da guerra nuclear (Jornal do Brasil, 3/1/1984)
- Serra do Cachimbo pode ser local de provas nucleares (8/8/1986)
- Cientistas do Pugwash pedem uma definição (O Globo, 7/9/1987)
- FAB construiu um buraco para testes nucleares no meio da Amazônia (O Globo, 233/2014)
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