Pinguelli e o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ
por Angela Leite Lopes, professora, dramaturgista e diretora
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Não sei dizer quando foi que conheci o Pinguelli. Acho que foi “por tabela”, ao longo da minha vida, por sua atuação na área de ciência e tecnologia, sua luta pelas liberdades e sua importância no movimento que levou à reintegração na UFRJ dos professores punidos pelo AI-5, dentre os quais os meus pais.
Meu contato direto, profissional, com ele se deu quando ele assumiu a coordenação do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, em 1990, onde eu trabalhava desde 1986 como responsável pelo Setor de Teatro do Projeto Arte e Palavra, concebido e coordenado por Marcia Sá Cavalcante Schuback, na gestão de Márcio Tavares D’Amaral.
Escrever esse depoimento sobre o Pinguelli é mais uma ocasião para relembrar esses anos em que o FCC foi ganhando os contornos que mantém até hoje.
Depois de décadas de ostracismo durante os governos militares, o FCC foi revitalizado quando Horácio Macedo foi eleito reitor da UFRJ – primeiro reitor nomeado a partir da consulta à comunidade universitária em 1985. Até então, os salões do Palácio Universitário e sua linda Capela São Pedro de Alcântara – a Capela da Reitoria – eram usados basicamente para casamentos, cerimônias e efemérides diversas. Lá estavam também a sede do Quarteto de Cordas da UFRJ e da biblioteca central.
O Projeto Arte e Palavra ocupou os espaços do FCC – capela, saguões, salões e pátios internos – com concertos, exposições, peças de teatro, criadas a partir de eixos de pesquisa que reuniam pesquisadores e artistas. Foi um belo projeto que aliava a reflexão e a criação, abria a universidade para o público externo, e editava a revista Arte e Palavra.
Em 1989, ao final do mandato da reitoria, Horácio Macedo se reapresentou, disputando a eleição com o Pinguelli. Horácio venceu, mas como reeleição para reitor era algo inconstitucional, o resultado foi anulado. Novas chapas, novas eleições, Nelson Maculan Filho tornou-se o novo reitor. Pinguelli foi então nomeado para o FCC.
Sua visão do papel das artes na universidade era muito diversa da do projeto que tinha sido implementado de 1986 até então. Coerente com sua visão de política universitária, logo criou um Grupo de Trabalho reunindo professores de unidades ligadas ao ensino artístico para decidir o que devia ser feito.
Mas o evento inaugural da sua gestão foi na verdade a participação do FCC no festival “Terra e Democracia” que aconteceu no Aterro do Flamengo em setembro de 1990, ocupando o que foi chamado de “Planeta Espaço”. Durante dois dias, houve ali na nossa tenda apresentações de corais, de grupos de dança, de concertos de música eletroacústica e cenas teatrais ilustrando os momentos mais significativos da evolução histórica da física, escritas pelo próprio Pinguelli, com direção minha e de Ricardo Tamm, música de Carole Gubernikoff e um elenco de atores estudantes da Unirio, em sua maioria.
Depois disso, enquanto eram debatidos os rumos a serem tomados pela produção artístico-cultural dentro do FCC, foi iniciada uma grande reforma do Palácio Universitário, momento em que foi feito também um levantamento sobre a história do prédio.
Por motivos diversos, pedi demissão da UFRJ em 1992, se não me falha a memória – eu tinha sido contratada para trabalhar no FCC, especificamente. Lembro do Pinguelli me chamando em sua sala, preocupado com minha decisão (como é que se pede demissão da UFRJ?!…). Tivemos uma conversa quase paternal, ao cabo da qual ele exclamou: “Então é sinal de que você está querendo muito tomar um outro rumo!” E me deu, de certa forma, a sua bênção.
Sim, eu queria me dedicar às minhas traduções de Nelson Rodrigues para o francês, continuar o trabalho de introduzir a obra desse autor na França. O que culminou, alguns anos depois, na montagem de minha tradução de Toda nudez será castigada no Festival de Avignon. E coincidiu, aliás, com minha volta à UFRJ, como docente do Curso de Artes Cênicas da Escola de Belas Artes.
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