Pinguelli

por Darc Costa, presidente da Federação das Câmaras de Comércio da América do Sul

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Conheci Luiz Pinguelli Rosa em 1971, ou seja, há mais de cinquenta anos. Meu primeiro contato com ele se deu quando resolvi, logo depois de formado engenharia civil, fazer um mestrado em engenharia nuclear, na Coordenação dos Programas de Pós-graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Para se fazer este mestrado, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, que o financiava, exigia a aprovação prévia, em um curso de preparação ao mestrado, que era ministrado pelo Professor Pinguelli e outros professores. Nas suas aulas, Pinguelli, tanto nesse curso prévio, como no mestrado, se mostrou um excelente professor, dedicado e esclarecedor.

Segui, depois, minha carreira profissional e voltei a me encontrar com ele, ainda no decorrer da década de setenta, do século passado, eu já como funcionário concursado do BNDES e ele na universidade, por causa do apoio que o Banco, através de um de seus programas, concedia a pesquisa para a Coppe/UFRJ. Nesta ocasião, conheci outra faceta do professor, o seu compromisso com o desenvolvimento do Brasil e sua argúcia na defesa das suas teses para promover a modernização do aparelhamento do sistema universitário.

Passaram-se os anos e só voltei a encontrá-lo quando militamos, conjuntamente, contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, isso já na década dos noventa. A partir de então, nos víamos mais a miúde, pois nessa mesma época eu frequentava a Coppe/UFRJ, primeiro na qualidade de aluno do doutorado em engenharia de produção e depois como professor convidado do mesmo departamento. Pude então constatar uma outra faceta do Professor Pinguelli, a de administrador, pela excelência com que conduzia a complexa estrutura da Coppe/UFRJ e seus diversos departamentos, nem sempre infensa aos ditames da política interna e externa. Lembro-me, dessa época, de sua ativa e efetiva atuação, já no início do atual milênio, para a condução do processo que levou um grande amigo meu, também já falecido, o Professor Carlos Lessa, a ser reitor da UFRJ. Aqui estão neste texto, Pinguelli e Lessa, dois brasileiros com B maiúsculo, que nos deixaram.

Posteriormente, no início do primeiro governo Lula, ficamos muito próximos, encontrávamos mais, ele como o Presidente da Eletrobrás e eu como conselheiro desta empresa e Vice-Presidente do BNDES. Pude acompanhar neste Conselho junto com Maria da Conceição Tavares, dentre outros, sua exitosa gestão naquela instituição e sua injusta e execrável destituição da gestão da empresa, por motivos de natureza política. Sua saída do cargo da Presidência da empresa, como publicado pela imprensa na época, deveu-se ao fato do presidente Lula não ver nele alguém capaz de mobilizar votos no Senado da República. Indelicada e injusta foi a retirada do professor Pinguelli da Presidência da Eletrobrás e como, a posteriori, podemos constatar profundamente maléfica ao Brasil. Externei essa posição contrária a esse desfecho no conselho da empresa e pessoalmente ao professor. Me retirei do governo, poucos meses depois, pedindo demissão do BNDES e do Conselho da Eletrobrás.

De lá até a morte do professor Pinguelli nos encontrávamos ocasionalmente. Algumas vezes marcávamos almoço num restaurante da universidade. Podia ver pelo que conversávamos que a dedicação de Pinguelli a UFRJ e a sua COPPE, a seus alunos e aos seus cursos eram a mesma, de quando eu o havia conhecido, a de um abnegado. O tempo não havia alterado seu espirito empreendedor.

Pinguelli fará muita falta aos que acreditam no Brasil, naqueles que se dedicam a ciência e tecnologia, naqueles que buscam a inovação e em especial aos seus alunos, que sempre dele receberam ensinamentos e incentivos nas suas pesquisas. Faz e fará muita falta.