Debate e gestão no setor de energia

O Acordo Nuclear Brasil-Alemanha

Apresentada pelo governo como a solução energética que garantiria o crescimento do país, a assinatura do Acordo Nuclear entre o Brasil e a Alemanha gerou preocupação entre potências estrangeiras e na comunidade científica nacional. Pelo contrato assinado em 27 de junho de 1975, o Brasil contrataria dois reatores de 1300 megawatts de potência, que seriam construídos até 1985. Outros seis poderiam ser adquiridos. Entre estrangeiros e brasileiros, havia o temor de que o regime comandado pelo general Ernesto Geisel se valesse do domínio da tecnologia nuclear para fins militares.

A comunidade científica debateu exaustivamente o assunto em encontros, congressos e seminários. Em pleno regime militar, um grupo de pesquisadores se uniu na oposição ao projeto, considerado megalomaníaco. O custo estimado para o programa chegava a 8 bilhões de dólares, caso fossem feitos todos os oito reatores. O projeto também incluía o desenvolvimento de uma fábrica de enriquecimento de urânio a jato centrífugo, entre outras parcerias.

Físico nuclear, Pinguelli Rosa foi um dos primeiros cientistas a se posicionar contra os erros do Acordo, criticando o alto custo da energia nuclear em um país com grande potencial de geração de energia hidroelétrica e o potencial dano ambiental resultante da geração de resíduos. Participou intensamente dos debates na 27ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em julho de 1975, que aprovou um documento expressando reservas quanto a “uma solução nuclear desta magnitude”.

No próprio encontro, Pinguelli foi convidado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), José Goldemberg, a integrar uma comissão formada para analisar a viabilidade de transferência de tecnologia pelo acordo. Pinguelli Rosa escreveu um relatório apontando que, em casos semelhantes, a contribuição das empresas estrangeiras costuma se limitar “à sua adaptação às condições locais”.

Em outros eventos e textos, Pinguelli seguiu criticando os impactos ambientais da energia nuclear e o alto custo do kilowatt produzido pelas usinas. Como um dos mais proeminentes participantes do movimento, de oposição aberta ao regime militar, teve seu nome incluído em uma lista de inimigos pelos órgãos de informação da ditadura, acusado de fazer parte de uma conspiração contra a política nuclear do governo.

Em 1978, denúncias de irregularidades publicadas na revista alemã Der Spiegel levaram o Senado Federal a abrir uma CPI sobre o Acordo Nuclear. Pinguelli cooperou com os senadores, que incluíam Franco Montoro, Itamar Franco e Saturnino Braga, e depôs na comissão. O relatório da CPI confirmou boa parte das críticas feitas pelos cientistas e recomendou a construção de apenas quatro reatores. Até hoje, só Angra II foi concluída. Iniciadas em 1984, as obras do reator de Angra III foram paralisadas em 2015. Em janeiro de 2022, o Conselho de Administração da Eletrobras aprovou a sua retomada.

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Fiz parte desde o primeiro instante de um pequeno grupo cuja posição influiu na formação de uma corrente de opinião na comunidade científica e tecnológica. Combati abertamente o que considerei os erros do Acordo Nuclear. Tratava-se, mais do que opiniões pessoais, tornou-se uma posição de alguns engenheiros, físicos e outros profissionais que se viram envolvidos no debate. Por causa disto tive meu nome incluído, pelos serviços de segurança e informação do governo, em uma extravagante lista de acusados de uma exótica conspiração antinuclear, envolvendo cientistas”

Pinguelli , extraído do livro Memórias – De Vargas a Lula

O Acordo Nuclear Brasil-Alemanha

Apresentada pelo governo como a solução energética que garantiria o crescimento do país, a assinatura do Acordo Nuclear entre o Brasil e a Alemanha gerou preocupação entre potências estrangeiras e na comunidade científica nacional. Pelo contrato assinado em 27 de junho de 1975, o Brasil contrataria dois reatores de 1300 megawatts de potência, que seriam construídos até 1985. Outros seis poderiam ser adquiridos. Entre estrangeiros e brasileiros, havia o temor de que o regime comandado pelo general Ernesto Geisel se valesse do domínio da tecnologia nuclear para fins militares.

A comunidade científica debateu exaustivamente o assunto em encontros, congressos e seminários. Em pleno regime militar, um grupo de pesquisadores se uniu na oposição ao projeto, considerado megalomaníaco. O custo estimado para o programa chegava a 8 bilhões de dólares, caso fossem feitos todos os oito reatores. O projeto também incluía o desenvolvimento de uma fábrica de enriquecimento de urânio a jato centrífugo, entre outras parcerias.

Físico nuclear, Pinguelli Rosa foi um dos primeiros cientistas a se posicionar contra os erros do Acordo, criticando o alto custo da energia nuclear em um país com grande potencial de geração de energia hidroelétrica e o potencial dano ambiental resultante da geração de resíduos. Participou intensamente dos debates na 27ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), , em julho de 1975, que aprovou um documento expressando reservas quanto a “uma solução nuclear desta magnitude”.

No próprio encontro, Pinguelli foi convidado pelo presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), José Goldemberg, a integrar uma comissão formada para analisar a viabilidade de transferência de tecnologia pelo acordo. Pinguelli Rosa escreveu um relatório apontando que, em casos semelhantes, a contribuição das empresas estrangeiras costuma se limitar “à sua adaptação às condições locais”.

Em outros eventos e textos, Pinguelli seguiu criticando os impactos ambientais da energia nuclear e o alto custo do kilowatt produzido pelas usinas. Como um dos mais proeminentes participantes do movimento, de oposição aberta ao regime militar, teve seu nome incluído em uma lista de inimigos pelos órgãos de informação da ditadura, acusado de fazer parte de uma conspiração contra a política nuclear do governo.

Em 1978, denúncias de irregularidades publicadas na revista alemã Der Spiegel levaram o Senado Federal a abrir uma CPI sobre o Acordo Nuclear. Pinguelli cooperou com os senadores, que incluíam Franco Montoro, Itamar Franco e Saturnino Braga, e depôs na comissão. O relatório da CPI confirmou boa parte das críticas feitas pelos cientistas e recomendou a construção de apenas quatro reatores. Até hoje, só Angra II foi concluída. Iniciadas em 1984, as obras do reator de Angra III foram paralisadas em 2015. Em janeiro de 2022, o Conselho de Administração da Eletrobras aprovou a sua retomada.

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Foto: Acervo Jornal do Brasil, 1984

Fiz parte desde o primeiro instante de um pequeno grupo cuja posição influiu na formação de uma corrente de opinião na comunidade científica e tecnológica. Combati abertamente o que considerei os erros do Acordo Nuclear. Tratava-se, mais do que opiniões pessoais, tornou-se uma posição de alguns engenheiros, físicos e outros profissionais que se viram envolvidos no debate. Por causa disto tive meu nome incluído, pelos serviços de segurança e informação do governo, em uma extravagante lista de acusados de uma exótica conspiração antinuclear, envolvendo cientistas”

Pinguelli , extraído do livro Memórias – De Vargas a Lula
Foto: Kioji Nagae / Acervo Furnas Centrais Elétricas S.A.

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DOCUMENTOS

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ARTIGOS DE PINGUELLI

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MATÉRIAS E REPORTAGENS 

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VÍDEOS

Conselho de Minerva – Sede de Saber, parte 1 (Canal Gustavo, 3/2006)
Seminário Internacional sobre Usinas Nucleares (Conexão Xô Nuclear, 10/2015)
Arquivo GEE: Luiz Pinguelli Rosa – parte 1 (Canal GEE, 6/2016)
Luiz Pinguelli Rosa – Projeto Nuclear Brasileiro (History of Science, 3/2019)