Pinguelli e a árvore de plástico

Homenagem do professor Luiz Bevilacqua
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Ontem prestou-se uma tocante homenagem ao Professor Pinguelli. Vários amigos e colegas falaram sobre seu desempenho como dirigente, como acadêmico e como líder político e também como amigo. Um homem de destaque e singular importância para o Brasil, particularmente para os jovens que ingressam na carreira acadêmica.

Falou-se sobre a personalidade de Pinguelli naquilo que nos une, o que é natural nessas horas, em que a tristeza da perda converge para a memória daquilo que nos consola. Dentre os diversos feitos relatados por

vários colegas quero destacar um que me parece de extraordinário valor simbólico, revelado pelo nosso professor Watanabe. Resumindo, conta o professor Watanabe, que certo dia ao visitar Pinguelli, que na ocasião era diretor da COPPE, observou a sua preocupação em regar cuidadosamente a planta que se erguia do vaso ao lado de sua mesa. Tendo entrado na sala a secretária da diretoria e presenciando a cena advertiu que a planta era artificial. Esta cena impressionou o professor Watanabe que, revelando ter sido criado na roça, ficara sensibilizado com o cuidado de Pinguelli com a planta que supunha viva.

Essa fábula nos convida a perguntar quais são as nossas plantas e as nossas roças. Só reconhece e valoriza a planta quem foi criado na roça. Até recentemente nós, criados na roça da busca pelo saber e do aprendizado regávamos a árvore do conhecimento e da inovação procurando plantar em terreno inexplorado, uma extraordinária aventura. Hoje, porém, a nossa universidade está enveredando por caminhos em um terreno que não é a nossa roça, onde o utilitarismo imediato predomina. Na nossa roça original plantamos uma semente que fica invisível por um tempo, depois germina, cresce e dá bons frutos. Leva tempo, é necessário paciência. Atualmente essa roça está ficando seca, poucos estão dispostos a plantar e regar, leva tempo. A nova roça requer urgência, a profundidade do conhecimento está sendo trocada pelo seu uso, diferenciado, rápido e efêmero. É uma roça de plásticos. Rega-se para preencher protocolos, mas a planta nem cresce e nem murcha. Toda planta que murcha já foi um dia fértil e deixou marca na sua descendência. A planta que nunca murcha jamais foi fértil. Nascimento e morte são sinais de vida. A beleza estática e imutável não tem vida.

Seria muito útil passarmos um tempo na roça e ver como a semente enterrada, invisível, germina frágil, cresce e trona-se frondosa, dá bons frutos por vários anos e eventualmente morre, enquanto árvore de plástico não tem semente, não germina, não cresce mas está sempre com bela aparência, não dá frutos, apenas carrega frutos, nunca morre e um dia é arrancada e posta fora.

Em homenagem ao professor Pinguelli e seguindo a sugestão subjacente à fala do professor Watanabe meditemos sobre o nosso futuro, nós que somos participantes de uma instituição de educação e pesquisa, sobretudo com relação à nossa inserção no consórcio das nações. Seremos universidades de plástico regadas por conveniência e dotadas de uma beleza fria e estéril ou uma universidade da roça onde as verdadeiras plantas germinam crescem e dão frutos?

Meus caríssimos amigos estamos no meio do furacão de uma revolução cultural semelhante à revolução industrial que nos deslocou para uma posição inferior no mundo das principais nações com potencial semelhante ao nosso. É urgente que todos nos unamos, todas as nossas universidades, principalmente as públicas, sem discriminações de região para que unidos possamos preservar a independência de pensar e de educar as novas gerações.

A melhor homenagem ao professor Pinguelli é permanecermos nós mesmos dentro da nossa roça cheia de vida para que as novas gerações possam colher os frutos de saber vivo e independente, e assim melhor contribuirmos para o concerto das nações.